Bohemian Rhapsody | Queen e a controversa sexualidade de Freddie Mercury
Bohemian Rhapsody, a tão aguardada cinebiografia da banda Queen, traz um recorte temporal do momento da formação da banda até o show histórico do Live Aid em 1985. De uma forma muito terna, retrata a trajetória conflituosa do líder Freddie Mercury, interpretado magistralmente por Rami Malek (Mr. Robot) e, notoriamente, pega carona na “fórmula Queen” para garantir um entretenimento saudosista explorando os maiores sucessos da banda.
A direção do longa foi creditada a Bryan Singer, responsável por dirigir grandes franquias como X-Men (2000, 2003, 2014 e 2016). Entretanto, ele acabou sendo demitido apenas duas semanas antes da conclusão das filmagens por se envolver em polêmicas como acusações de assédio sexual de menor e episódios de impropriedades durante a produção do longa. Devido aos escândalos, o filme em seguida foi encabeçado por Dexter Fletcher (Voando Alto), baseado no roteiro do prestigiado Anthony McCarten (A Teoria de Tudo).
Notadamente, o grande destaque do filme é Malek, que imprimiu um Freddie Mercury pormenorizado e carismático que mexe com nossas emoções. Pela caraterização do personagem, como a prótese dentária (Freddie possuía 4 incisivos a mais, que segundo o vocalista dava mais espaço na boca para emitir notas maiores), vestuários, trejeitos e uma ternura no olhar de tirar o fôlego, o ator ganha a simpatia do público na primeira cena. Dali em diante, não sentimos o tempo passar e o longa se encerra com uma vontade avassaladora de “quero mais”.
Além da precisa caracterização dos atores, a fotografia do filme de Newton Thomas Sigel, responsável pela direção fotográfica de filmes como Drive, é cativante. Com suas cores vivas e iluminação enfática digna da atmosfera de grandes performances de divas pop atuais, Sigel dá corpo às interpretações musicais e nos transporta pontualmente para cada fase do Queen ao longo da linha temporal edificada no filme.
O longa presta uma belíssima homenagem ao Queen e Freddie Mercury sobretudo no cuidado como coloca os dramas vividos pelos personagens. A banda é retratada como uma família com destaque e espaço bastante igualitário para o brilho de cada atuação, muito embora, como era de se esperar, Malek seja o expoente do longa, com forte chance de ser indicado ao Oscar 2019 de Melhor Ator.
Atenção, pois os próximos tópicos desta resenha podem conter spoilers de Bohemian Rhapsody.
A abordagem do relacionamento entre os personagens em Bohemian Rhapsody
O longa claramente se propõe a um protagonismo difuso, elucidando a importância de cada personagem na contribuição para a ascensão do Queen, de modo que todos eles se relacionam com a história da banda, ainda que indiretamente.
Inicialmente retrata-se a família do líder e sua contribuição na formação de Freedie. Imigrantes indianos na Inglaterra, a família Bulsara é romanticamente colocada como a responsável pelos valores morais imprimidos ao Freddie Mercury, sobretudo de honestidade e respeito à sua intimidade e escolhas.
O vocalista do Queen inicia seu processo de individualização quando rejeita seu nome de batismo Farrokh e decide ser chamado de Freddie, posicionamento que é encarado com muita ternura e respeito pelos seus pais e irmã, cujo conflito e questionamento demonstrado no filme é suavizado com toques de comédia nas cenas entre os personagens.
A partir daí, Bohemian Rhapsody já indica que não pretende aprofundar-se em grandes dramas. Precisamente por esse motivo, de maneira transversa o longa comove, uma vez que o que poderia ser encarado como um roteiro raso, diante de um olhar mais atento, passa-se a enxergar como uma trama suave, honrando com candura a memória da banda.
Assim, o filme passa a abordar a formação do Queen, sempre com toques de humor, e vai nos revelando as características de cada membro da banda. O longa demonstra a interação entre Mercury e o guitarrista Brian May (Gwilyn Lee), o baterista Roger Taylor (Ben Hardy) e o baixista John Deacon (Joseph Mazzello), diante dos conflitos de ideias, colaboração e coordenação de suas relações pessoais com as necessidades da banda. Tais conflitos culminam na ruptura e restabelecimento da união frente ao estilo de vida extravagante adotado por Freddie.
O tabu em torno da sexualidade de Freddie Mercury
Freddie Mercury foi casado durante muito tempo com Mary Austin (Lucy Boynton), para quem compôs o sucesso “Love of My Life”. A exibição da música é um dos pontos de maior emoção em Bohemian Rhapsody, alternando as cenas dos personagens com trechos reais da apresentação do Queen no Rock In Rio de 1985 no Brasil, cujo público surpreendeu a banda ao dominar a letra inteira.
Bohemian Rhapsody retrata todo amor e respeito que Freddie tinha pela sua companheira e o momento do término por conta da revelação de seu desejo de se relacionar com homens. No entanto, a admiração e a amizade por Mary preservou-se por toda a sua vida.
Mary é retratada como o grande alicerce de Freddie, a grande heroína capaz de trazer ele de volta para seu foco. Nessa esteira, é o reverso do papel estabelecido a Yoko Ono para os Beatles, uma vez que sua compreensão e devoção demonstrava um ideal de relação cuja modificação de status é explorado com grande naturalidade e leveza, restaurando nossa fé na resiliência diante dos percalços que a vida traz.
Um ponto chave no filme é quando Freddie revela seu desejo por homens para Mary e ela conduz a situação com magnitude. Com tolerância e amor, e sem fazer juízos de valor, Mary tem a inteligência emocional de compreender que diante da condição do que se é, não cabe sentir raiva. Basta apenas o acolhimento, concedendo à relação afetiva liberdade para ser exatamente aquilo que ela é, desprovida de rótulos.
Notadamente, o filme coloca Freddie Mercury como bissexual, muito embora ele seja um ícone para o movimento gay. Há uma pesada exploração midiática de sua figura dada sua sexualidade.
Em uma coletiva de imprensa no longa, Freddie é bombardeado com diversas perguntas referentes à sua imagem. A cena elucida uma exploração midiática predatória, com os repórteres querendo saber sobre sua sexualidade, ou o motivo pelo qual Mercury não consertava seus dentes. Impossível não fazer um paralelo com o questionamento de muitas atrizes atualmente no tapete vermelho cujo maior interesse midiático é saber a marca de seus vestidos.
Nesse tocante, Freddie é demonstrado como um ser que luta por preservar sua intimidade, colocando sempre a importância da banda à frente. Ao mesmo tempo, não esconde da mídia seus relacionamentos, como com o seu companheiro Jim Huttom (Aaron McCusker), que esteve ao seu lado até sua morte por complicações oriundas da AIDS contraída nos anos 80.
Isso é vida real ou apenas fantasia?
O desmembramento da banda é creditado à influencia negativa de Paul Prenter (Allen Leech), tido como o grande traidor na vida de Freddie Mercury. Prenter teria isolado o cantor socialmente, e quando foi deixado por Freddie, vendeu a história deles para um tabloide revelando uma série de intimidades relativas à promiscuidade e abuso de drogas, que poderia ter causado profundas marcas em sua carreira se não fosse por sua genialidade reconhecida.
Não se sabe o que é verdade das declarações de Paul Prenter, mas sem dúvida a versão de vilão foi a escolhida pelo filme e endossada pelos fãs da banda. Paul fez declarações acerca da sexualidade de Freddie, imputando a ele uma homossexualidade certa, o que mais uma vez serviu de banquete para a mídia sensacionalista. No entanto, o longa passa de forma mais superficial por esta questão.
De fato, o foco principal de Bohemian Rhapsody é consagrar uma grande homenagem ao Queen. O filme retrata a genialidade de uma banda que fez história ao ousar misturar efeitos sonoros e criar uma cena musical inovadora, com toda a licença poética que pode incomodar fãs que buscam uma cinebiografia comprometida com a verdade dos fatos.
A escolha do título Bohemian Rhapsody é emblemática. Ele retrata o ápice da genialidade singular da banda ao trazer uma canção de seis minutos que mistura diferentes gêneros de música e elementos vocais e sonoros, o que representa expressivamente o espírito colaborativo da banda Queen e o comprometimento com o que se produzia. Mas mais que isso, demonstra que para além de um conjunto de grandes mentes unidas, o Queen foi uma grande família.
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Ótima análise do filme!
Vocês são dez!!!
Análise perfeita, lógico que gostaria de saber muito mais d q foi mostrado e, principalmente sobre o verdadeiro sentimento dele com Mary, pois, ao falecer ele deixou a milionária e com tudo q era importante p ele, inclusive suas cinzas, assim, penso ter sido um amor acima de tudo e pouco conhecido além dos textos de Sheakspeare e o fato dele não poder corresponder como homem de fato p Mary o fazia infeliz. Isso q p mim representa a genial Bohemian Rhapsody coincidindo com o ano de separação dele e Nary, quando ele mata o homem e assume a real sexualidade. Como o q escrevi pode ser d3vaneio gostaria de ir mais profundo nisso, mas talvez só se Mary publicar uma biografia..