The Handmaid’s Tale | Veja por que a chocante série foi a melhor de 2017

Grande vencedora do Emmy 2017, série baseada em livro homônimo possui temática atual e assusta ao lembrar que não podemos baixar a guarda na luta pelos direitos das mulheres

O ano de lançamento do livro The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia, em português), de Margaret Atwood, foi 1985. Mas poderia muito bem ter sido 2017.

Se você é Potterhead, certamente já ouviu falar deste livro, mesmo que não soubesse à época sobre o que era. Lembra que a atriz e ativista Emma Watson fez uma ação no início deste ano escondendo diversas cópias de um livro em Paris, cada um contendo um bilhete escrito à mão por ela?

 

A escolha do livro pela notoriamente feminista Emma Watson não foi em vão. The Handmaid’s Tale é um convite à reflexão sobre os perigos da dominação de gênero.

 

Sobre o enredo

A história é narrada por Offred (Elisabeth Moss), e se passa num futuro distópico nos Estados Unidos em que a infertilidade assola o país. As mulheres se tornam as únicas culpadas por isso, recebendo o estigma de estéreis, não sendo questionado em momento nenhum se a infertilidade também não acometeria os homens.

Acreditando se tratar de um castigo de Deus devido à promiscuidade do Ocidente, um grupo cristão fundamentalista dá um golpe no governo, fundando a República de Gilead. Nessa nova ordem social, a Bíblia é utilizada como pretexto para a redução dos direitos das mulheres, que passam a exercer seus papéis conforme o exposto nas escrituras sagradas.

Imagine acordar da vida que você conhece para um mundo em que as mulheres perderam todos os seus direitos, não podendo mais trabalhar, votar, ler, ter lazer, sair de casa desacompanhada ou sem autorização, ou fazer qualquer tipo de escolha sobre sua própria vida? Esta é Gilead.

 

Offred em The Handmaids Tale
Prepare-se, pois esta série vai te causar muita revolta e desconforto

 

As mulheres de Gilead são divididas em castas, de acordo com suas características, mas todas têm algo em comum: são consideradas objetos, propriedades dos homens.

As Esposas dos Comandantes vestem azul, e são consideradas as mulheres mais afortunadas. Tementes a Deus, acreditam que o papel da mulher é cuidar da casa e gerar filhos. No entanto, por serem estéreis, se julgam indignas por não conseguirem exercer o único papel para o qual foram criadas. Como uma solução para este quadro, a República de Gilead utiliza a passagem bíblica de Gênesis 30, 1-3, para legitimar a escravidão e o estupro das Aias.

Ser uma Aia é surrealmente considerado uma posição de privilégio e honra sob as demais. São as escassas mulheres férteis, que se tornam propriedade das famílias dos Comandantes. Utilizam a cor vermelha em suas vestimentas, com um chapéu branco de longas abas laterais, para impedir que olhem para o lado. Sua única função é serem fertilizadas pelos Comandantes, gerando filhos para as Esposas.

As Marthas utilizam vestimentas verdes e são as escravas inférteis que trabalham nas casas dos Comandantes, cuidando de todos os afazeres domésticos.

As Tias estão numa posição de prestígio, pois são as mulheres mais velhas que vigiam e educam as Aias em centros antes de elas estarem prontas para serem enviadas para as famílias. Possuem um falso poder, pois são controladas pelos soldados da República.

Por fim, as Econoesposas são a escória da sociedade, sendo as mulheres dos homens de classe média, sem nenhum prestígio social. Na série, são identificadas por vestirem roupas cinzas (no livro, suas roupas são coloridas).

 

Figurinista em The Handmaids Tale com alguns figurinosFigurinista Ane Crabtree com parte do figurino das Aias, Esposas e Tias, respectivamente

 

Ao perceber a ascensão da nova ordem social, June resolve fugir dos Estados Unidos com seu marido Luke e sua filha Hannah. No entanto, antes de chegar na fronteira do Canadá, é capturada pelos soldados da República e separada de sua família. Por ser fértil, é obrigada a se tornar uma Aia. Como um símbolo da perda total de sua identidade, deixa de ter direito ao seu nome June, passando a ser chamada de Offred, em uma referência ao nome do seu Comandante proprietário – “Do Fred”.

A única coisa que mantém June viva é o desespero por notícias de sua família, e a esperança de sua filha estar viva e um dia reencontrá-la.

 

Série do Hulu

Por ser um tema atual, o livro foi adaptado para a TV por Bruce Miller, e vendido para uma série produzida e estrelada por Elisabeth Moss (eterna Peggy Olson, de Mad Men), e transmitida pelo serviço de streaming Hulu (concorrente do Netflix).

A série é incrível e em sua maior parte bastante fidedigna ao livro, conseguindo passar aos telespectadores todo o incômodo, terror, desconforto e pânico que Gilead proporciona.

As atuações estão impecáveis, e isso foi refletido no número de Emmys que a série levou, sendo a recordista de 2017. Dentre eles, estão o de Melhor Atriz de Drama (Elisabeth Moss), Melhor Atriz Coadjuvante (Ann Dowd, no papel de Tia Lydia) e Melhor Atriz Convidada (Alexis Bledel, eterna Rory Gilmore, no papel de Ofglen).

 

Dowd, Moss e Bledel com alguns dos Emmys
Dowd, Moss e Bledel (respectivamente) com alguns dos Emmys dados à série

 

Tempos Atuais e Gilead

Trinta e dois anos se passaram desde o lançamento do livro, e a história ali narrada nunca foi tão atual. Se você tem dúvidas disso, basta conferir os escândalos de assédio sexual que assolam Hollywood desde o início do mês. Se esses casos encabeçam as manchetes de jornais por envolverem famosos, imagine a realidade das mulheres que sofrem no silêncio de seus anonimatos.

 

Ofglen em The Handmaid's Tale
Ofglen em The Handmaid’s Tale

 

Margaret Atwood defende que sua obra não é uma ficção, pois, de acordo com ela, tudo o que escreveu em The Handmaid’s Tale já aconteceu em algum momento e lugar. Isso assusta, e nos lembra que a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres deve ser constante e diária.

Em tempos de Trump, Marine Le Pen e Bolsonaro, reflexos da onda de conservadorismo que assola o mundo, a ameaça de uma ditadura teocrática parece cada vez mais palpável.

Gilead pode estar mais perto do que parece.

 

Leia também: The Handmaid’s Tale: o que esperar da 2ª temporada e suas 4 principais mulheres

Boo Mesquita

Geek de carteirinha e cinéfila, ama assistir a filmes e séries, ir a shows, ler livros e jogar, sejam games no ps4 ou boards. Quando não está escrevendo, pode ser vista fazendo pole dance, comendo fora ou brincando com cachorrinhos. Me siga no Instagram!

3 thoughts on “The Handmaid’s Tale | Veja por que a chocante série foi a melhor de 2017

  • 22 Março, 2018 at 13:01
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    sensacional, a melhor série de 2017, não vejo a hora da 2a temporada. Assistir essa série e não se incomodar com muitas injustiças sofridas pelas mulheres apenas por serem mulheres é certificado de ausência total de empatia! E o pior é realmente você sentir que tudo ali é muito passível de se tornar realidade 🙁

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    • 28 Abril, 2018 at 16:11
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      Com certeza Vinícius, em diversos momentos fiquei extremamente desconfortável vendo a série. Já assistiu ao episódio duplo da nova temporada?
      Abraços!

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  • 18 Fevereiro, 2019 at 15:30
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    E além de olhar para Hollywood e suas denúncias de abuso, olhando um pouco mais longe do nosso consumo americano estão os abusos claros por exemplo nos países árabes, um livro bom que representa um mundo nada fictício é o do Khaled hosseini, A cidade do Sol, conta histórias de mulheres do Afeganistão e Paquistão, realmente uma realidade chocante, que ao assistir The Handmaid’s tale me fez relembrar toda a sua literatura, sejamos críticos e conscientes. Abraços!

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