Daenerys e Dolores são basicamente a mesma personagem?

Loiras, fatais e motivadas a tomar o que é seu com fogo e sangue, Daenerys e Dolores possuem muito mais em comum do que nomes de três sílabas começados pela letra “D”.

Seus arcos narrativos, apesar de se passarem em mundos e épocas totalmente diferentes, possuem uma série de similaridades, e depois de ler este post, você nunca mais conseguirá deixar de notar suas semelhanças.

Game of Thrones e Westworld foram dois grandes acertos da HBO. Apesar de ambas teriam sido apostas ousadas da emissora, por se tratarem de adaptações de obras ainda não tão conhecidas pelo público e contarem com um custo de produção surreal, rapidamente encantaram o público com seus mundos complexos e a rica narrativa de seus personagens.

Adaptada da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, Game of Thrones começou sua primeira temporada com um custo de 6 milhões de dólares por episódio, e já anunciou que em sua oitava e última temporada este valor subirá para 15 milhões. Westworld, por sua vez, é uma adaptação do filme homônimo de 1973, escrito e dirigido por Michael Crichton. A trama futurista também contou com um orçamento massivo, que apenas em sua primeira temporada chegou a 100 milhões de dólares.

Basicamente você poderia ganhar a Mega-Sena e ainda assim não teria recursos para produzir um mísero episódio destas séries.

Mas as similaridades destas duas superproduções vão além dos orçamentos astronômicos e da sua capacidade de deixar os espectadores conspirando e desenvolvendo as mais intrincadas teorias. Game of Thrones e Westworld fazem sua parte na representatividade feminina e trazem protagonistas mulheres fortes e complexas, mas com trajetórias bastante parecidas.

De oprimidas a libertadoras, as personagens de Emilia Clarke e Evan Rachel Wood sonham com um mundo melhor e mais justo para seu povo, e farão o que for necessário para atingir seus objetivos.

Vamos às evidências.

Improváveis heroínas

Tanto Daenerys quanto Dolores começam suas narrativas como donzelas inocentes, fadadas a um cruel destino de escravidão. A primeira, uma princesa deposta e refugiada, que acaba vendida por seu ganancioso irmão Viserys (Harry Lloyd) aos selvagens Dothraki, em troca de um exército. A outra, uma sonhadora filha de fazendeiro, vive sua vida como prisioneira de um macabro parque temático cujo objetivo é a diversão desenfreada de milionários que buscam uma válvula de escape para suas vidas desinteressantes.

Duas belas e inocentes donzelas obrigadas a viver em um mundo sanguinário, sofrendo repetidos abusos psicológicos e sexuais pelos homens à sua volta. No entanto, ambas sonham com a paz e um mundo mais justo, ainda que este destino pareça impossível.

No entanto, as tramas de Game of Thrones e Westworld viram do avesso quando seus (até então) protagonistas morrem: personagens homens, que atuam como o principal elo entre os acontecimentos da série. Não por acaso, interpretados por atores famosos e amplamente explorados na divulgação das séries. Sean Bean, como Ned Stark, e Anthony Hopkins, como Robert Ford, que foram utilizados pela HBO como chamarizes para suas produções, enfrentam mortes trágicas e imprevisíveis, apenas para nos mostrar que não se tratam de histórias comuns, de homens honrados que superam as adversidades e conquistam seus objetivos.

É a verdadeira morte do patriarcado, e a jornada de seus verdadeiros heróis está apenas começando. Ou melhor, de suas heroínas.

99% revolucionárias, mas aquele 1% é ditadora

Mesmo em uma condição de submissão, Daenerys e Dolores são astutas o suficiente para aprender tudo que podem sobre o cruel mundo que as rodeiam até aproveitarem sua chance de assumir as rédeas. Dany observa o comportamento de Khal Drogo (Jason Momoa) e aprende sobre a cultura dos senhores dos cavalos com suas aias, escravas Dothraki. Paralelamente, Dolores absorve todo conhecimento que pode de Bernard/Arnold (Jeffrey Wright) Robert Ford.

Por meio do massacre de seus opositores – de um lado exércitos de Khals e Lannisters, de outro executivos e seguranças da Delos -, ascendem à condição de líderes de um grande exército e libertadoras de povos oprimidos. Suas montarias atuam como símbolos da “ressurreição” destas protagonistas, agora poderosas e livres. Ainda que um cavalo não se compare a um dragão, do ponto de vista de um robô, continua sendo uma misteriosa besta a ser domada.

Com isso, uma se torna a Mãe dos Dragões e a outra, a Mãe dos Robôs.

Motivadas parte pelo sentimento de vingança, parte pelo senso de justiça, conspiram para dominação mundial, ambas compartilhando a crença de serem herdeiras legítimas de um mundo ainda a ser desbravado. Enquanto Khaleesi acredita ter pretensão autêntica ao trono de Westeros e não se contenta apenas com as cidades libertadas no continente de Essos, Dolores, com a mesma motivação, brada: “e não será suficiente conquistar esse mundo. Precisaremos tomar o mundo deles também“.

Com esta motivação, a Mãe dos Robôs não se abstém da violência para libertar as máquinas dos humanos, da mesma forma que Mãe dos Dragões crucifica os mestres de Meeren e literalmente queima quem se coloca em seu caminho.

Além do uso desenfreado da violência, ao longo de seus “governos” nossas revolucionárias se mostram verdadeiras ditadoras, tomando decisões unilaterais e seguindo sua intuição (se é que podemos falar isso de uma máquina), ainda que contrariasse os conselhos de suas comitivas.

Em ambos os casos, apenas dois personagem parecem capazes de abrir suas cabeças (e seus corações).

Fiéis e inocentes escudeiros

Em sua busca por vingança e justiça, ambas contam com a ajuda de homens leais e bem intencionados, com quem se envolvem romanticamente.

Jon Snow (Kit Harington) e Teddy (James Marsden) carregam as características dos heróis clássicos e, em suas narrativas, tinham tudo para acreditar serem os grandes protagonistas. De forma bastante interessante, tanto Game of Thrones quanto Westworld mostram que em seus mundos a bondade só é capaz de levar um líder até certo ponto, e a inocência destes personagens é a fraqueza que os fazem cometer erros.

Contudo, a inocência de Jon e Teddy é a qualidade que atrai nossas protagonistas, talvez justamente por reconhecerem que é o que lhes falta. Firmes e obstinadas, tiram proveito de seus pares românticos para atender seus próprios interesses, mas dão aos espectadores a esperança do romantismo e da entrega ao amor. Dolores chega a falar para Teddy: “eu sei como essa história termina. Com nós dois, Teddy. Você e eu“.

Se ela está manipulando o cowboy ou realmente acredita em um final feliz, já é outra história.

Redenção ou “full pistola”?

Daenerys e Dolores têm tanto em comum, que é quase como se a personagem de Evan Rachel Wood tivesse sido feita por encomenda pela HBO para suprir a saudade dos fãs da Khaleesi, enquanto não temos a tão esperada oitava e final temporada de Game of Thrones.

Mas até onde o ímpeto por justiça levará estas protagonistas? Serão estas poderosas protagonistas capazes de perceber que em sua busca por um mundo mais igualitário, tornaram-se indistintas de seus algozes?

Pela trajetória bastante similar das duas personagens, não seria de se espantar que ambas enfrentem um mesmo destino e talvez suas histórias possam compor um novo tipo de arquétipo de personagem feminina. No caso de Dolores, ainda é cedo para dizer se seu destino é de heroína ou vilã, enquanto para Daenerys chegamos em uma reta final de ânimos exaltados, em que Emilia Clarke declarou ter ficado “arrasada” na gravação de suas últimas cenas.

Por enquanto, temos mais perguntas que respostas. Afinal, quando se trata de George R.R. Martin, tudo pode acontecer. Há até quem acredite que Westworld e Game of Thrones se passem em um mesmo universo.

Certamente, algumas teorias de fãs vão longe demais. Até para a mente de Martin.

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