Fênix Negra [Crítica] | Vale a pena assistir?
A expectativa é sempre inversamente proporcional à probabilidade de satisfação de alguma experiência. Tenha expectativas altíssimas, e a possibilidade de frustração é quase garantida. Por outro lado, se suas expectativas são menores que o Homem-Formiga, você pode aproveitar até a mais insossa das experiências. Um bom exemplo disso é o longa Fênix Negra, último filme dos X-Men sob a aba da 20th Century Fox.
Dirigido pelo novato Simon Kinberg, Fênix Negra é praticamente um reboot de X-Men: O Confronto Final (2006), último longa da trilogia dos mutantes iniciada em 2000. Desta vez, Jean Grey (Sophie Turner) sofre os efeitos colaterais de uma explosão espacial, e aos poucos se transforma na Fênix Negra, sua versão maligna.
Vale lembrar que Fênix Negra já nasceu fadado ao insucesso. Após a aquisição da 20th Century Fox pela Disney, muitas pessoas se questionaram se o filme sairia do papel, já que com o retorno dos X-Men à Marvel outro reboot na franquia é esperado. Em outras palavras, é pouco provável que haja uma continuação para o longa, ou que o elenco seja sequer reaproveitado.
Além disso, outro fator que contribuiu para a imagem negativa de Fênix Negra foram os constantes atrasos no lançamento e as refilmagens do longa. O terceiro ato do filme foi totalmente regravado, passando de uma luta espacial para um confronto a bordo de um trem militar.
Em entrevista ao Yahoo, James McAvoy expôs que a mudança foi necessária para evitar comparações com outro filme de super herói lançado recentemente. Apesar de não ter falado especificamente o nome, é seguro supor que se tratava de Capitã Marvel, tendo em vista sua sequência no espaço.
Apesar de toda a má publicidade, Fênix Negra começa de forma satisfatória.
O primeiro ato do filme é certeiro, interessante, e possui cenas que valorizam os efeitos especiais. É também o momento em que o filme demonstra estar antenado com o contexto social atual, havendo inclusive uma cena em que certa personagem sugere a mudança do nome do time para melhor refletir a essencialidade das mulheres na equipe.
Os problemas surgem com a apresentação dos vilões, encabeçados por Vuk (Jessica Chestain). Na verdade, Chestain sequer pode ser considerada a real vilã, já que era apenas uma pessoa aleatória em quem o alienígena se metamorfa ao chegar na Terra.
Não há profundidade alguma em Vuk. O filme não explora sua história, suas motivações ou a razão pelo qual ele quer exterminar a raça humana em vez de coexistir com ela. O alienígena é o típico vilão maniqueísta, que existe apenas para movimentar a trama em direção às reviravoltas necessárias ao seu desfecho. E como não o compreendemos, não nos importamos com o seu final.
Neste sentido, seria mais interessante para a narrativa se os roteiristas John Byrne e Chris Claremont mantivessem o conflito central na luta interna de Jean, entre ceder aos seus impulsos ou relembrar suas origens como parte da equipe dos mutantes. No entanto, essa escolha acabaria aproximando demasiadamente o longa de X-Men: O Confronto Final.
Fênix Negra então peca pelo excesso. Excessivamente longo e cansativo, a história apresenta a transformação de Jean, o conflito de Erik/Magneto (Michael Fassbender) ao mesmo tempo em que introduz uma nova vilã.
Há camadas demais no longa, e pouco tempo para dissecá-las. Como resultado, os personagens agem de forma rasa e mudam de ideia o tempo todo, como melhor convém à trama.
Tanto Sophie Turner quanto Chestain carecem de carisma e presença em suas performances. Nem mesmo nos momentos mais dramáticos Turner nos convence de seu sofrimento, e a sempre surpreendente Chestain fica presa a um roteiro que usa o fato de Vuk ser um alienígena como justificativa para entregar uma atuação robótica.
A narrativa de Jean Grey é desinteressante não somente por culpa de Turner. Em O Confronto Final, havia uma imersão do público no sofrimento da mutante. Afinal, era o terceiro filme de uma trilogia iniciada em 2000, sendo Jean Grey uma das protagonistas desde o início.
Já a Jean de Turner sofre com a falta de empatia do público. Sua apresentação tardia durante um breve período em X-Men: Apocalipse (2016) afastou Jean da plateia, que não se sente conectada com a personagem. Como consequência, o espectador acaba não se importando tanto com o destino da protagonista.
Mas isso não é um grande problema, porque por mais absurdo que pareça, Fênix Negra não é sobre Jean Grey.
Apesar de estar representado no título do longa, o conflito interno de Jean Grey serve apenas como recurso narrativo para entregar o desfecho de cada um dos personagens apresentados na nova fase dos mutantes iniciada com X-Men: Primeira Classe (2011).
E é nisso que o filme triunfa. Fassbender e James McAvoy brilham como Professor Xavier e Magneto, e suas interações são sempre satisfatórias. Grande destaque para McAvoy, que entrega um Xavier mais falho, consumido por seu ego, mundano – e quase alcoólatra.
Jennifer Lawrence também entrega uma interpretação carregada de emoções como Raven. Lawrence possui enorme presença, e rouba todas as cenas em que aparece.
Se o filme vale o ingresso é pela sensação de ter sido entregue um final satisfatório aos personagens que acompanhamos desde Primeira Classe. Apesar dos furos e inconsistências, Fênix Negra é uma boa despedida dos mutantes da Fox, porque ao mesmo tempo em que encerra em termos a história, deixa as portas abertas caso a Disney queira dar continuidade à franquia.
E para um filme que já nasceu morto, ser apenas “bom” e ter a possibilidade de ressurgir das cinzas é motivo o suficiente para se comemorar.
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