Reality Z | Como são os zumbis dessa série comparados às demais obras do gênero?

A farofa de hoje vai levar Cérebro, Rio de Janeiro e Sabrina Sato. Vamos falar de Reality Z, contudo esse conteúdo é dedicado para todos aqueles que gostam de zumbis e de suas histórias. Não abordaremos atuações, cenários ou mensagens de outros aspectos da série.

Reality Z, primeira série brasileira de zumbis, estreou dia 10 de junho de 2020 na Netflix, com 10 episódios. Dirigida por Claudio Torres, veio impressionando com os takes de destruição da cidade do Rio de Janeiro, que são muito bem feitos. As músicas brasileiras escolhidas para dar vida às cenas de desespero e matança tem uma ironia notável, dando um emoção bem diferente aos planos. O seriado veio com aplicação de tecnologias para complementar a maquiagem digitalmente, e isso trouxe mais impacto e realismo. E para além de tudo isso, ocorre plot twists MESMO, críticas políticas e sociais e desfechos que você jura que não vão rolar num seriado brasileiro.

CONTÉM GLÚTEN SPOILER

Mas também é importante deixar claro que é preciso olhar esse seriado com um respaldo da cultura brasileira, para entender a trama de vários personagens. Por exemplo, temos O Deputado, chamado por alguns gringos de O Congressista. Na descoberta do apocalipse ele aparece fugindo com baixa segurança policial. Alguns gringos afirmam que isso não faz sentido, mas aqui no Brasil nós sabemos que faz todo o sentido.

Outro olhar brasileiro que temos que ter são as tradicionais abordagens metafóricas do nosso cinema, que trabalham bem situações irônicas e mensagens sociais.

Talvez por isso Reality Z tenha trazido um bocado de controvérsias sobre roteiro e atuações entre os amantes de zumbis, acostumados com produções gringas. Dá para notar que a essência dessas controvérsias vem das oposições entre as avaliações técnicas e as impressões pessoais sobre o seriado brasileiro. Alguns trazem a crítica sobre a presença excessiva das ideias de Dead Set, o seriado britânico no qual foi baseado. Outras críticas abordam má atuações do casting, ângulos de câmera ruins, e até mesmo a baixa diversidade. E há críticas que envolvem a atuação dos zumbis transformados. É dessa que nós vamos falar!

Os zumbis de Reality Z lembraram os zumbis de Z Nation. Passou longe do transtorno que eles são em Guerra Mundial Z ou Invasão Zumbi. E não passaram nem perto de The Walking Dead. No geral, são zumbis meio caricatos, endurecidos e de olhos em que fosforescem um azul claro.

Um ponto positivo é que o seriado assume que eles vão apresentar uma exagerada carnificina, com explosão de sangue, muitas tripas soltas e muito ódio. Então nem sempre tem tanto realismo nesses combates ou nos ataques zumbis. Mas vamos repassar os zumbis de Reality Z por 2 categorias, a das Emoções e dos Movimentos, além comentar sobre o takes gerais e o final.

As Emoções dos zumbis em Reality Z

Todo amante de zumbi tem em mente que, se um ser humano sofre uma mutação tão imensa que o faz andar por aí em putrefação comendo outros seres humanos, ele é movido então por uma fome violenta, e apenas isso. A primeira coisa que se espera é que emoções sejam ausentes. Assim como faz The Walking Dead, onde os zumbis são lentos e têm apenas o objetivo de comer, não trazendo expressões sobre nenhuma situação.

Contudo, existem filmes/séries que trazem um zumbi mais expressivo, e por isso explicam um pouco sobre a origens, dão dicas sobre o contágio e sobre padrões de comportamento. Tal como Guerra Mundial Z, em que o zumbis escolhem morder quem tem um bom estado de saúde, para poder proliferar o vírus com sucesso. Ou em Eu Sou a Lenda, no qual literalmente víamos expressões nos “zumbis vampiros”, como um senso de comunidade e alguma inteligência, explicados pelo fato de a doença ser um efeito colateral de um vírus que, inicialmente, seria a cura do câncer.

E nós, zombie lovers, até aceitamos alguns filmes como Meu Namorado é um Zumbi, que está mais para uma crítica social com romance, mas que também dá pistas sobre a atuação do vírus e os estágios de evolução, tendo até mesmo possibilidade de regeneração.

Tudo que for devidamente introduzido na história para nos situar é bem aceito. Afinal, nós somos fãs do apocalipse zumbi e já vimos vários deles. Se um roteirista põe zumbis na história, nós vamos estar a espera de dicas para conhecer mais esses personagens que estão no centro causador de todo o clímax.

A primeira coisa que reparei é que, em Reality Z, nós vamos achar zumbis com ódio. Atacam claramente com uma raiva, rosnando, mãos tensas, ombros muitas vezes para trás e projetando o maxilar para morder com a expressão “cara de mau”. Em decorrência disso, a primeira pergunta que fiz foi: por que eles têm essa expressão? De onde será que esse vírus surgiu? Será que é mesmo um vírus?

Mas essa pergunta não é respondida. Mesmo quando a Ana (a personagem que projetou o Olimpo) fica curiosa sobre a zumbi quieta que encontra dentro do banheiro, o seriado cuida para que esse momento não tenha significado direto para os zumbis, e não passe de um momento de esperança dos sobreviventes.

A segunda coisa que aguçou a curiosidade é que algumas vezes os zumbis movem notavelmente seus olhos, em vez de mexer a cabeça para olhar para seu alvo. Mexer APENAS os olhos é uma atitude, no geral, refinada para um zumbi.

Achei que veríamos cenas assim serem exploradas, que trariam novas caraminholas para os fãs de zumbis. Especialmente quando descobrimos Nina zumbificada. Mas nossa expectativa é quebrada e nenhuma mensagem é deixada. Ela morde, e é morta. E pronto. Talvez haja um significado mais metafórico nisso, mas quem estava lá pelos zumbis não iria se ligar na metáfora. 

Reality Z nos mostra uma chamada de série de ação, com matança, sobrevivência e jogo de poder. Isso nos inviabiliza uma análise num tom mais reflexivo. Então mesmo que gostássemos cada vez mais da história, tínhamos frustrações com a abordagem sobre os zumbis. 

Os movimentos

A história vai nos trazendo cenas dinâmicas como a tentativa de fuga dos participantes do reality show, a estratégia para a tomada do Olimpo pelos sobreviventes (bem interessante diga-se de passagem) e o auto-sacrifício feito pela Ana, para que seu filho e os outros sobreviventes trancassem o portão do Olimpo.

No meio de tudo isso, conseguimos ver vários zumbis. Aí ficamos um pouco tristes,  observamos muitos zumbis andando de pernas duras, o tronco projetado para frente, punhos classicamente tortos com as mãos para trás, quase todos do mesmo jeito. Quem já assiste zumbis há algum tempo fica, instintivamente, procurando deformações nos corpos, um pé quebrado, perna torna, braço faltando. Mas, até onde pudemos conferir, não achamos zumbis assim.

Sabemos que hoje em dia existe um casting focado em interpretação zumbi, havendo todo um estudo anatômico pensado para isso. Em The Walking Dead, por exemplo, os figurantes passam por um curso para aprenderem técnicas de como ser um zumbi. Andar com o osso quebrado ou um olhar vazio mas ainda assustador.

E não estamos aqui falando de maquiagem, pois de nada adianta uma maquiagem incrível, sem a vida que é dada a ela. Na maioria das produções mais recentes o zumbis recebem um protagonismo especial, eles são personagens extras e ao mesmo tempo as estrelas de QUALQUER seriado zumbi. Caso tenha se interessado, você pode ver mais sobre a escola de zumbis aqui.

Em Reality Z não conseguimos sentir qualquer tipo de sentimento pelos zumbis, seja pena, raiva ou angústia. Não estamos pedindo para ver os zumbis de TWD ou REC, mas queremos ver a personalidade e a história de origem dos zumbis de Reality Z, que em nenhum momento ganhou relevância no seriado.

A trama contém pontos bem relevantes que prendem a gente, como o Deputado assistindo silenciosamente o quase estupro da Tereza e em seguida o assassinato, a sangue frio, do agressor. Mas fica devendo algo a mais nos sentimentos dos sobreviventes em relação aos zumbis.

Os takes dos zumbis

Notamos diversas cenas em que a atuação zumbi é compensada por takes acelerados, bem escuros, e com muitos cortes de cena para mostrar vários ângulos dos zumbis. No Ep.5 vemos uma grande agitação, e também a troca completa dos residentes iniciais do Olimpo pelos que estão chegando com o Deputado. Nesse episódios observamos muitos ataques zumbis. E a gravação cheia de cortes e sombras funciona bem, o ataque causa a agitação intencionada, e o momento em que os zumbis aparecem entrando no estúdio por detrás do Olimpo fica convincente.

Mas o final de Reality Z está de parabéns

Nos episódios 9 e 10 os acontecimentos desenrolam rápido e inesperadamente. Reality Z vem trazendo à tona o pior do ser humano, as escolhas mais egoístas e também as mais insensatas para um apocalipse zumbi. Tanto de quem é vilão quanto de quem é mocinho.

Os amantes de zumbi ganham um presente na cena em que o policial Robson acaba com os planos do Deputado, trazendo um zumbi para dentro do Olimpo e soltando ele lá dentro, para ver como os recém chegados lidariam com a situação. Essa cena está de parabéns, a intensidade, o plot twist e, especialmente, o zumbi, né? Ele demonstra mais visceralidade. E convence a gente de que ali tem mesmo um zumbi.

Então, no Ep. 10, temos o grand finale com traição, invasão zumbi e uma pequena e cômica referência à lutas de classe pela personagem Tereza. Essa cena impacta bastante o espectador, mas novamente, no quesito zumbis, não vemos muitas criaturas mutiladas e temos umas maquiagens meio primárias.

Mas aí vai uma mensagem aos os amantes de zumbis: dêem uma chance para a série de zumbi brasileira, Reality Z. E não se deixe contagiar pelos comentários ácidos de muitos canais gringos que estão cobrando altas produções dessa série. A história vale a pena, corre num ritmo rápido e tem um toque cômico-irônico ao refletir a sociedade brasileira.

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