Deadpool 2 | Ser mais do mesmo não é um problema (crítica sem spoilers!)
Dois anos após o primeiro filme da franquia e sob o comando de um novo diretor, David Leitch (De Volta ao Jogo e Atômica), chega aos cinemas Deadpool 2.
Em um dos seus espetáculos de humor, o comediante estadunidense Dave Chappelle desenvolveu o seguinte texto: “Então eu peguei metade do dinheiro, milhares de dólares, e pensei: ‘Darei para a caridade.’ E sabem que fiz? Comprei 25 mil dólares de chicletes e entreguei aos mendigos, para que mastigassem e continuassem com fome”. A plateia troca olhares duvidosos, alguns dão risos tímidos, outros se permitem gargalhadas mais acaloradas, e uns se questionam se é correto rir daquilo.
Deadpool é o Chappelle dos super-heróis.
O primeiro filme, de 2016, inseriu novos elementos até então não tão vistos pelo público. Piadas com um humor mais ácido e cheio de palavrões, bastante sangue e a quebra da quarta parede, peculiaridade do personagem desde os quadrinhos. Estas características deram um novo fôlego ao sub-gênero, e fez o longa deitar e rolar em um terreno fértil para tirar sarro de artifícios como o universo mais sombrio da DC, do cinemão colorido e pipocão da Marvel, dos roteiristas, e da carreira do ator de comédia romântica, Ryan Reynolds.
Tal qual seu antecessor, Deadpool 2 tem um primeiro ato que flerta com o drama, dando um destino improvável a um determinado personagem e lançando o mercenário tagarela a uma crise existencial de dar inveja a qualquer adolescente pós fim de primeiro namoro.
A trama não chega a emocionar, o que nem é seu propósito. Tudo se resume a uma desculpa para arrancar da audiência boas e sinceras risadas. Neste ponto, é importante deixar algo claro: Deadpool 2 não se leva a sério. A prova disso, é que após o fatídico e impactante take inicial, os cômicos créditos já trazem o espectador para a realidade da gozação.
Se até os longas Da Concorrência deixaram de lado a seriedade, não será o anti-herói que faz piada de pum o responsável por levar uma tragédia grega ao cinema de super-seres.
A maior novidade do longa, sem dúvidas, se dá por conta da introdução do viajante do tempo, Cable (Thanos Josh Brolin). Nos quadrinhos, o personagem tem um plano de fundo muito mais profundo, filho de Scott Summers, o Ciclope, e Madlyne Pryor, um clone da mutante Jean Grey, é infectado com um vírus, e mandado para futuro em uma desesperada tentativa de achar uma cura. Contudo, toda essa história é deixada de lado, pois acreditem, comparada às HQs, as linhas temporais da franquia X-Men nos cinemas são tão bem estruturadas como um castelo de cartas.
Em Deadpool 2, Cable tem uma narrativa mais simplista, ao melhor estilo O Exterminador do Futuro, o mutante volta ao passado para eliminar um alvo, o garoto Russell (Julian Dennison), missão esta que vai de encontro com Deadpool, que tenta proteger o moleque.
Para isso, o mercenário tagarela recruta pessoas com habilidades especiais para formar a X-Force, que apresenta novas figuras ao longa, como a mutante Domino (Zazie Beetz), cujo super poder é… ser sortuda, o que gera cenas impagáveis. E, também, o esquecível Beldam (Terry Crews, o pai do Chris), que fora o carisma de seu intérprete, acrescenta em nada à obra. Isto posto, se existia alguma expectativa para grandes cenas envolvendo a super equipe, melhor baixá-las, pois são apenas uma escada para 3 minutos de gargalhadas.
Se em um primeiro instante, a presença de Cable traz a trama um tom mais soturno, pouco a pouco, o espectador, e o próprio Deadpool, vão se acostumando a sua persona. Deadpool e Cable são como água e óleo, enquanto o primeiro é desgarrado de qualquer traço de heroísmo (embora o faça), o segundo parece amarrado a um utopismo esperançoso. O roteiro faz a química entre os dois simular quase um relacionamento buddy cop. Brolin, aliás, está ótimo e consegue passar com maestria todo o tormento e ressentimento do viajante do tempo em certos olhares, que junto da fiel caracterização dão vida ao personagem nascido em meados dos anos 90 na revista Os Novos Mutantes.
Há também a direção de David Leitch, que embora tenha em mãos mutantes ao invés de humanos comuns, sofre da falta de criatividade nas cenas de ação, como em seus filmes anteriores. Estas cenas não são necessariamente ruins, mas quando temos no baralho Colossos (Stefan Kapicic), Míssil Adolescente Megassônico (Brianna Hildebrand) e outros já citados, o feijão com arroz torna-se pouco inspirador.
Em contra partida, Leitch acerta em cheio um terreno pouco explorado em sua carreira, a comédia. Junto dos roteiristas Reese e Wernick, cria uma sequência de boas sketches que permeiam o roteiro gerando o genuíno filme de galera. A produção também é recheada de boas músicas, passando por Air Supply, DMX, Celine Dion, A-ha e Rupert Holmes (inclusive com a mesma música de Guardiões da Galáxia, Escape – The Piña Colada Song).
Embora seja maior que seu antecessor, Deadpool 2 não ambiciona ser épico. Isso é para outro filme, já lançado há poucas semanas. Em sua ordinariedade, o filme funciona e consegue empolgar e divertir tanto os fãs mais puristas, quanto o público comum.
O entretenimento nunca é descartável.
Ps: As duas cenas pós créditos são hilárias.
Ps²: Fique atento a um certo rosto de Clube da Luta e Entrevista com o Vampiro.
Para acompanhar nossos próximos posts, não se esqueça de nos seguir no Facebook, Twitter ou Youtube. 😉