Detetive Pikachu | Encantador, mas excessivamente explicativo

Um longa noir pode ser o gênero menos apropriado ao imaginar uma aventura Pokémon. No entanto, Detetive Pikachu adentra na escuridão urbana com entusiasmo. E não é loucura imaginar que no princípio das reuniões entre produtores e roteiristas, uma produção de 1988 foi usada como exemplo para vender a ideia deste projeto, Uma Cilada Para Roger Rabbit.

Esta obra de Robert Zemeckis, diretor de clássicos como De Volta Para o Futuro (1985) e Forrest Gump (1994), tinha a cidade grande como cenário ideal para sua história, isso é, um ambiente onde o elenco de atores e os personagens animados pudessem interagir de forma que tudo funcionasse o mais real possível. E sim, o filme dirigido e co-roteirizado por Rob Letterman, de Goosebumps: Monstros e Arrepios (2015), consegue tal feito com louvor.

Em Detetive Pikachu, Ryme City é mais um personagem, não só por seu estilo e arquitetura únicos, que lembram a estética de Blade Runner indo de encontro com o Japão, mas por apresentar de forma natural a harmonia entre humanos e Pokémons. É possível ver Squirtles auxiliando bombeiros a apagar um incêndio, assim como um Machamp, com seus múltiplos braços, e um Snorlax, dormindo como de praxe, ajudando na orientação do trânsito, sendo este último muito útil para trancar uma via. Uma aplicação prática de como seria a convivência com estes diferentes seres.

Contudo, a história começa fora dos limites das ruas de néon de Ryme. Nela, Tim Goodman (Justice Smith), um jovem proletariado vendedor de seguros e que desistiu do sonho de ser um treinador Pokémon, recebe a notícia que seu pai, o detetive Harry Goodman, sofreu um misterioso acidente e com isso, ele vai até a cidade grande para resolver assuntos pendentes.

 

Psyduck e Pikachu no carro em Detetive Pikachu

 

Chegando lá, descobre não só que seu pai deixou um caso em aberto, como também encontra o Pokémon do investigador, um amnésico Pikachu. O roedor pede a ajuda do distante filho de seu parceiro humano na busca por respostas, afinal, embora todos digam que Harry morreu, seu corpo não foi encontrado.

A surpresa e maior estranheza de Tim, é que ele consegue se comunicar perfeitamente com o “monstrinho de bolso”, enquanto demais pessoas, ao ouvir o Pokémon, entendem apenas o amável “Pika pika”. Este detalhe, transforma o relacionamento dos dois em algo único, e por isso, acabam mergulhando de cabeça no caso.

Ryan Reynolds, que dá voz ao Pikachu entrega as falas mais divertidas de todo o filme. Aliás, o personagem por si só carrega o longa nas costas. Isto é, tudo o que o roedor elétrico faz é curioso e engraçado, deixando o espectador aguardando por cada aparição ou momento de destaque do personagem.

Inclusive, uma das preocupações após os primeiros materiais de divulgação eram o de como seria o trabalho de Reynolds, mais conhecido como o sarcástico Deadpool, dublando o fofo e amável Pikachu.

 

Pikachu vestido de Deadpool em Detetive Pikachu

 

Embora haja uma explicação do roteiro que justificaria toda e qualquer estranheza, não há ressalvas sobre o trabalho do intérprete do mercenário tagarela, pois todo o bom humor entregue pela voz do ator, somado a belíssima animação do roedor, não deixam o espectador imaginar o boca suja dos quadrinhos na pele do Pikachu.

Apesar da ambientação encantadora, todos os personagens humanos carecem de carisma, e nem mesmo o protagonista, interpretado pelo ótimo ator revelado na série The Get Down da Netflix, escapa disso.

Vale dizer que o problema não são os astros, mas sim a forma como os papéis foram escritos. O Tim de Smith parece pouco se importar com sua jornada, e este sentimento de apatia quase que passa para o público, não fosse os Pokémons.

Mas ora, não é justo esse o motivo do sucesso do anime? Pois tanto na animação quanto nos jogos, são os “monstrinhos de bolso” os destaques daquele universo. Então de certa forma, o longa segue uma premissa já estabelecida? Não.

Embora Pikachu e companhia sempre estiveram no holofote, é fácil lembrar de características de Ash, Misty e Brock, trio principal das primeiras temporadas do anime dos anos 90. Isso não acontece nem com Tim, tampouco com Lucy Stevens (Kathryn Newton) uma jornalista do estilo BuzzFeed que logo se soma à dupla de protagonistas para solucionar o caso do investigador desaparecido.

Somado a isso, um atrativo que Detetive Pikachu deixa de lado são as batalhas e capturas das criaturas. A produção prefere por retirá-las dos ringues e coloca-las nas ruas. Assim, trata as batalhas como uma atividade clandestina. Uma decisão impopular mas digna de aplausos, dada a dor da cabeça que a Warner poderia ter por reclamações de grupos protetores de animais.

 

Pikachu corre perigo em Detetive Pikachu

 

Apesar disso a trama tem lá suas cenas de ação, mas o roteiro decide por deixá-las de lado para dar vez à investigação, como o próprio nome do longa sugere. Uma ideia curiosa que dá bastante certo até determinada parte da fita. Mas conforme a trama avança, as respostas do mistério vão surgindo da forma mais expositiva possível.

Detetive Pikachu comete o erro máximo de qualquer história: explica mais que surpreende. E ao se encaminhar para seu fim, o filme para no meio do que deveria ser divertido. Ainda que tenham reviravoltas em seu terceiro ato, o excesso de explicação faz com que elas percam a força de impactar o expectador.

Resultado de um roteiro que conta com cinco escritores creditados? Talvez.

É curioso pensar como o público que não conhece direito a franquia irá reagir ao filme, dado que em momento algum ele explica o básico das características de alguns dos pokémons que aparecem no longa. Além disso, boa parte do humor se baseie no conhecimento prévio das criaturas que povoam Ryme City.

Para àqueles perdidos no mundo Pokémon, pode ser valioso ter uma criança ao seu lado na sessão, para sussurrar alguns easter-eggs.

Detetive Pikachu certamente não é um filme para todos. Em parte, atinge o adulto que assistiu às aventuras de Ash Ketchum em busca de se tornar um mestre Pokémon no Programa da Eliana (sim, ela já foi uma apresentadora infantil lá nos anos 90).

E isto se dá principalmente pela entrega maravilhosa de personagens como Jigglypuff, Charizard e outros que começaram no 8 bits do Game Boy, e que após certo tempo de filme facilmente se misturam com o mundo real. Da mesma forma, o filme também alcança o público mais novo, até por fazer questão de colocar alguns dos Pokémons que aparecem nos animes e jogos das gerações atuais.

Embora careça de um esmero no roteiro, que parece mais um episódio de Scooby-Doo, Detetive Pikachu apresenta um universo cheio de possibilidades futuras.

E convenhamos, colocar Pikachu como Detetive nas telonas já é, por si só, uma realização.

 

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Raife Sales

Enquanto aguarda na fila do pão, ouve podcast e alguma playlist que envolva trilhas de filmes, dance, tipo Earth Wind and Fire, e pagode. Além, de claro, formas de melhorar esse mundão. Vai planeta!

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