Frozen 2 | A continuação está à altura do primeiro filme?

Frozen 2 chega aos cinemas com o desafio de superar ou ao menos manter a qualidade e o sucesso do primeiro filme da franquia, lançado há seis anos atrás. O longa-metragem liderou a bilheteria nos Estados Unidos durante o feriado de Ação de Graças, chegando a bater recordes expressivos de audiência. Estes dados mostram o quão altas estavam as expectativas do público em torno da continuação.

“O passado não é o que parece ser. Você deve encarar a verdade.”

Como era esperado, a Disney entregou um belo produto, mas que não ultrapassa a qualidade ou o “efeito-novidade” de seu predecessor. O roteiro, escrito em sua maior parte por Jennifer Lee e Allison Schroeder, está mais desenvolvido e maduro, com passagens mais sombrias. Tal amadurecimento se reflete nas personagens principais de Frozen 2: Anna e Elsa não são mais duas meninas inocentes e solitárias, e sim duas jovens mulheres que sabem quem são, o que querem e, principalmente, o que temem. Na nova produção as irmãs irão em busca da verdade sobre fatos acontecidos no passado, quando o pai delas ainda era uma criança, e que podem ter ocasionado sérias consequências em suas vidas. E para todo o reino de Arendelle.

 

arendell - frozen 2

 

Os diálogos estão bem formulados e com muitas doses de humor, agradando a diferentes faixas etárias de audiência. O filme é voltado para o público infantil, mas os pais também poderão ter sua dose de entretenimento, com destaque para a canção de Kristoff e as renas, uma divertida paródia dos clipes de música pop da década de 80 – referência que será facilmente percebida e arrancará gargalhadas dos adultos presentes na sala de cinema.

Aliás, os números musicais são satisfatórios, mas claramente não atingem o nível do primeiro filme.

Independente das letras dubladas ou em inglês, as melodias com muitas nuances celtas não empolgam como as mundialmente conhecidas “Let it go” e “Do You Want to Build a Snowman?”. A canção candidata a ser sua substituta, Show Yourself, interpretada por Idina Menzel – que mais uma vez dá voz à personagem Elsa – não atinge o mesmo patamar, apesar da melodia similar. Já no que diz respeito ao restante da trilha sonora, chama atenção a musica inicial da produção, All ls Found, cantada originalmente por Evan Rachel Wood, atriz conhecida por suas atuações no seriado da HBO Westworld, e no longa-metragem Aos Treze.

Por mais que a opção do áudio original seja a preferência de uma parte do público, é importante ressaltar que a versão na língua portuguesa dos diálogos foi executada de forma primorosa. A dublagem feita pelo ator e apresentador Fábio Porchat para a personagem do boneco de neve Olaf, se destaca. A sincronia entre a atuação de Porchat e a animação funciona muito bem, seja nos momentos de humor – a grande maioria – seja nos momentos mais emotivos do personagem, que possui algumas das passagens mais bem escritas do filme.

A trama se desenvolve com a temática de valorização do meio-ambiente como pano de fundo. Inúmeras vezes são citadas a importância do equilíbrio ambiental, o respeito aos elementos, o fato de a “água ter memória” e da possibilidade da troca entre natureza e seres humanos acontecer de forma produtiva, sem necessidade de exploração. A escolha da Disney em abordar o tema no atual momento em que estamos passando tem extrema importância, pois coloca o cinema na posição educativa de conscientizar diferentes gerações e também chamar atenção para a questão ambiental como um todo.

 

anna e olaf - frozen 2

 

Atenção! Os próximos parágrafos da crítica contêm spoilers de Frozen 2. Pule para o próximo aviso!

 

Ainda sobre temas sociais, a crítica política feita pelos roteiristas é bem clara. A história se desenvolve através das consequências geradas a partir de um forçado processo de colonização e posterior isolamento de toda uma região e cultura.

Estas atitudes tem como ponto inicial o “medo” pelo desconhecido, pelo que não é compreendido, em resumo: a intolerância pelo que é diferente. A versão contada pelo colonizador e repassada às futuras gerações destoa completamente da verdade, perpetuando a injustiça cometida no passado. A solução final escolhida pelos roteiristas para retomar o equilíbrio entre os povos – a necessidade de quebrar a represa/muro que os isola – não poderia ser mais explícita.

Enquanto o atual presidente dos Estados Unidos clama pela construção de um muro que o separe de seus vizinhos mexicanos, Frozen 2 afirma em seu enredo que a resposta para a harmonia entre povos e tempos mais prósperos é justamente o caminho oposto.

 

Fim dos spoilers!

 

Lee e Schroeder finalizam sua história com um final inteligente e crítico, que possui margem para diferentes reflexões. A trama é bem concluída, sem pontas soltas deixadas propositalmente para a elaboração de outra continuação. Caso a Disney opte no futuro pelo desenvolvimento do terceiro filme da franquia, o universo a ser explorado evoluiu de forma significativa, com muitos campos e novos personagens a serem desenvolvidos. Porém, entender que novas histórias precisam ser contadas e reconhecer o momento de parar, pode ser uma sábia decisão, até mesmo para animações.

E Frozen 2 é um excelente encerramento de ciclo.

 

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Amanda Luvizotto

Formada em Crítica de Cinema pela AIC-RJ. Detalhista, aprecia filmes que não subestimam o espectador. Ama livros, cachorros, vinhos e detesta pré-julgamentos.

One thought on “Frozen 2 | A continuação está à altura do primeiro filme?

  • 6 Dezembro, 2020 at 12:15
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    Adorei seu conteúdo Parabéns, bem completo e dinâmico.
    Era exatamente o que eu estava buscando na internet e
    todas as minhas dúvidas foram tiradas aqui. Muito sucesso e
    gratidão!

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