American Crime Story | Histórias reais sobre o assassinato de Versace
Após uma bem-sucedida 1ª temporada, a antologia American Crime Story retornou ao catálogo do Netflix com sua 2ª temporada. The Assassination of Gianni Versace rendeu ao ator Darren Criss a façanha de ter sido eleito melhor ator pelas quatro principais premiações relacionadas à TV norte-americana: Emmy, Globo de Ouro, Critic’s Choice Awards e SAG Awards.
Inspirada no livro Favores Vulgares, da escritora Maureen Orth, a 2ª temporada de American Crime Story conta a história do emblemático assassinato de Gianni Versace (Edgar Ramírez), criador e dono da grife que leva seu sobrenome, por Andrew Cunanan (Darren Criss), um jovem obcecado pelo estilista. Maureen era jornalista à época do assassinato, e o livro adveio de um compilado de todas as suas pesquisas e entrevistas sobre o assassinato de Versace.
Mas não se engane. Apesar de carregar no título o nome de Versace, ele não é a estrela da série.
Se O Caso O.J. Simpson foi focado principalmente nos absurdos envolvendo o crime cometido pelo antigo astro de futebol americano, o principal objetivo de The Assassination of Gianni Versace é contar a história do assassino do estilista. De forma não-linear, somos apresentados pouco a pouco à vida de Cunanan desde sua infância, para tentar compreender as motivações do assassinato.
Paralelamente aos flashbacks, parte da narrativa se passa em 1997 durante as investigações do caso. Neste momento, são apresentados Donatella (Penélope Cruz), herdeira do legado da marca Versace, e Antonio D’Amico (Ricky Martin), marido de Gianni por mais de uma década.
O núcleo familiar e investigativo de American Crime Story é secundário à real história a ser contada. Gianni Versace é coadjuvante, possuindo relevância apenas a partir do momento em que seu caminho se cruza com o de Andrew Cunanan.
Não à toa Darren Criss foi o vencedor de todos os prêmios desta temporada. Seu Andrew é o típico vilão: egocêntrico, sociopata, ambicioso, narcisista. Conforme a trama vai se desenvolvendo, fica cada vez mais difícil criar empatia por Cunanan, e a raiva para com seu personagem é fruto do assustador brilhantismo da interpretação de Criss.
Repetindo o feito de sua 1ª temporada, American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace levou diversos prêmios, incluindo Melhor Série Limitada tanto no Emmy 2018 quanto no Globo de Ouro 2019. Apesar do reconhecimento, houve críticas à série por parte da família de Versace e de seu ex-marido, que a categorizaram como uma obra de ficção.
Mas então o que de fato aconteceu? Listamos abaixo as 10 principais diferenças entre o retratado na série e a realidade do fatos!
Cuidado! Os tópicos abaixo podem conter spoilers da 2ª temporada de American Crime Story!
1. A pomba que morreu com Versace
Por mais inacreditável que pareça, o detalhe da pomba branca na cena do crime em The Assassination of Gianni Versace realmente aconteceu. Inicialmente, a polícia considerou que a pomba poderia significar que a morte do estilista teria alguma relação com a máfia italiana.
Mais tarde, os legistas descobriram que na verdade o projétil que atingiu Versace ricocheteou na grade de sua residência, se dividindo em diversos fragmentos. E um deles acabou acertando a infortunada pomba, que veio a morrer com o estilista.
Entretanto, há uma licença poética na cena do assassinato de Versace. Na série, antes do disparo, o estilista se vira e e parece reconhecer seu algoz, suplicando-lhe por sua vida. Já no crime real, o exame legista indicou que Versace foi atingido pelo projétil quando estava de costas para seu assassino, de modo que nunca pôde identificá-lo.
2. O passado de Andrew Cunanan
Como retratado em The Assassination of Gianni Versace, Andrew Cunanan apresentava traços de transtorno de personalidade antissocial com substancial falta de empatia. Ele era um mentiroso compulsivo e falava para as pessoas dos círculos sociais que frequentava que sua família tinha terras em Nova Jersey e que seu pai era dono de diversas plantações nas Filipinas.
Como retratado em American Crime Story, o comportamento violento de Cunanan piorou na adolescência. Vizinhos da família se recordam de uma ocasião em que Andrew jogou sua mãe violentamente contra a parede e ela sofreu deslocamento de ombro. Exames minuciosos das cenas dos crimes atestam para o sangue frio de Cunanan, que permanecia na residência das vítimas bastante tempo após os assassinatos, tendo inclusive tomado banho e se barbeado após assassinar brutalmente Lee Miglin.
Assim como demonstrado em The Assassination of Gianni Versace, Cunanan tinha um QI elevado e era extremamente culto. Isso somado à sua ambição em ascender socialmente fizeram com que o jovem se tornasse acompanhante e prostituto de homens mais velhos.
Um desses clientes teria sido Norman Blachford, que dava mesada a Cunanan, e permitia que ele vivesse em duas de suas propriedades. Especula-se que o fim de seu relacionamento com Norman e a perda de status social que isso representaria poderiam ter contribuído para os crimes do jovem.
Cunanan teria também vivido de graça por um tempo com o casal de amigos Lizzie Cote e Phil Merrill. Entretanto, diferente do ocorrido em American Crime Story, Lizzie e Phil não sabiam que Cunanan era gay, apesar de o rapaz ser abertamente homossexual em outros círculos sociais.
3. As vítimas de Cunanan em American Crime Story
Conforme exposto na série, Andrew Cunanan marcou seu nome na história dos serial killers famosos americanos ao assassinar sua última vítima, o estilista Gianni Versace. Mas entre 27 de abril e 15 de julho de 1997 ele cometeu outros quatro assassinatos, antes de tirar sua própria vida em 23 de julho daquele mesmo ano.
Sua primeira vítima foi seu amigo Jeffrey Trail, em Minnesota. Ele era militar em uma época em que a homofobia dominava as Forças Armadas. Trail realmente concedeu uma entrevista ao programa 48 Hours sobre a presença de homossexuais nas Forças Armadas americanas.
Mas diferente do exposto em The Assassination of Gianni Versace, não há indícios de que Trail tenha sido identificado na entrevista por seus pares na Marinha, ou que tenha sofrido represália. Também não se sabe o motivo real de sua dispensa pelas Forças Armadas, ou se o jovem de fato tentou o suicídio.
Em 27 de abril de 1997, Jeff Trail foi encontrado morto por golpes de martelo no apartamento de David Madson. O crime teria sido motivado pelo fim do relacionamento entre Cunanan e Madson, já que o serial killer acreditava que os dois amigos estavam tendo um caso.
Assim como em The Assassination of Gianni Versace, a polícia também suspeitou inicialmente do envolvimento de David na morte de Jeff. Afinal, o corpo foi encontrado no apartamento de Madson, e os vizinhos viram David e Andrew passeando com o cachorro no dia seguinte ao assassinato, o que poderia indicar que os dois eram cúmplices do crime.
Considerando que todas as testemunhas e vítimas dos crimes estão mortas, não há como precisar o que se passou entre os assassinatos de Trail e Madson. A versão para os fatos de American Crime Story retrata o exposto no livro de Orth, mas o que se sabe é que quatro dias após a morte de Trail, o corpo de Madson foi encontrado perto da cidade de Rush May, há kilômetros de distância de Minnesota.
Quando o corpo de Madson foi encontrado por pescadores em 03 de maio, provavelmente Cunanan já havia se encontrado em Chicago com sua terceira vítima, o magnata imobiliário Lee Miglin.
Apesar de a série partir da premissa de que Cunanan prestava serviços sexuais a Miglin, não há evidências que confirmem tal suposição. Em seu livro, Orth afirma que Cunanan conhecia uma respeitada e tradicional família de Chicago, que poderia ser a de Miglin. Entretanto, a família de Lee sempre negou que ele fosse homossexual, ou que tivesse qualquer tipo de envolvimento com seu assassino.
Algo que chamou a atenção para a possibilidade de que os dois se conheciam foi a violência com que o crime ocorreu. Antes de ser morto, Lee foi amarrado, torturado com uma chave de fenda e um serrote, apunhalado, e tinha todo o seu rosto coberto por fita adesiva. O magnata morreu ao ter sua garganta cortada por Cunanan.
Outro detalhe na morte de Lee reside na cena do crime. Não houve sinais de arrombamento na casa de Lee, e Cunanan parecia estar confortável na residência de sua vítima, tendo permanecido lá após o assassinato por tempo o suficiente para tomar sorvete, comer presunto (o assassino deixou a faca entalhada na peça), tomar banho, se barbear e dormir. Este fator também contribui para a hipótese de que Cunanan era acompanhante de Lee. Se fosse um assassinato aleatório, Cunanan teria pressa ao deixar a cena do crime. Mas o jovem parecia saber que Lee estava sozinho em casa durante todo o fim de semana.
Como apresentado em American Crime Story, após Cunanan fugir com o carro de Lee a polícia conseguiu localizá-lo devido a um telefone acoplado ao veículo, que emitia sinais às torres de comunicação. No entanto, ao descobrir tal fato, Cunanan precisou trocar de automóvel, o que o levou à sua quarta vítima, o coveiro William Reese.
Não há evidências de que Reese e Cunanan se conheciam. A polícia acredita que a motivação do crime tenha sido exclusivamente o roubo da camionete de Reese. Foi este veículo que conectou todos os crimes, já que ele foi encontrado perto da casa de Gianni Versace no dia que o estilista foi assassinado.
4. A morte de Cunanan
Após ter sido identificado como responsável pela morte de suas cinco vítimas, Cunanan tentou fugir do país. Ele teria contatado conhecidos para conseguir um passaporte falso, mas não há indícios que confirmem a versão da série que ele teria entrado em contato com Pete, seu pai. De acordo com o livro de Orth, Pete somente retornou para os EUA para vender os direitos autorais da história de sua família após o suicídio de Cunanan. Assim, não seria possível a cena em que Cunanan via seu pai em um programa de televisão momentos antes de tirar a própria vida.
5. A festa de aniversário de Cunanan
The Assassination of Gianni Versace explorou a fundo a possibilidade de Lee Miglin e Andrew Cunanan se conhecerem. Em determinado episódio, Norman Blachford cede sua casa para a festa de aniversário de 26 anos de Cunanan, em 1995.
De acordo com American Crime Story, Lee Miglin teria viajado de avião para a Califórnia exclusivamente para participar da festa, e lá teria conhecido Jeff Trail, e David Madson.
Apesar de Jeff ter realmente participado deste aniversário, não há indícios da presença de Lee no evento. Da mesma forma, seria impossível que David estivesse na festa, já que o aniversário de Cunanan foi em agosto, e os dois somente se conheceriam em novembro de 1995.
6. A possibilidade de Cunanan e Versace se conhecerem
Em Favores Vulgares, Orth encontrou diversas testemunhas que viram quando Versace e Cunanan se conheceram em uma boate gay em São Francisco. Mas diferente do retratado em American Crime Story, teria sido Versace a puxar a conversa entre os dois: “Eu te conheço. Lago di Como, não?“. De acordo com conhecidos do estilista, essa era uma frase que Versace utilizava como cantada para seus pretendentes.
Mas seu companheiro Antonio D’Amico negou que os dois se conhecessem, e afirmou que a cena retratada no seriado era “pura fantasia”.
O que se sabe era que Versace realmente estava em São Francisco naquela época, pois era o encarregado do figurino da ópera Capriccio, de Ricard Strauss. No entanto, não é possível saber se os dois de fato se encontraram na ópera como dramatizado na série, já que a única pessoa que capaz de confirmar essa informação teria sido o próprio Cunanan.
7. A relação entre Donatella Versace e Antonio D’Amico
Algo que American Crime Story parece ter retratado de forma verídica foi a relação entre Donatella Versace, irmã de Gianni, e seu marido Antonio D’Amico. Em The Assassination of Gianni Versace, Donatella trata Antonio com desprezo, responsabilizando-o pelo estilo de vida promíscuo de Versace.
Em 1999, Donatella concedeu ao New York Times uma entrevista na qual afirmou: “Minha relação com Antonio é exatamente a mesma como era quando Gianni estava vivo. Eu o respeito como namorado do meu irmão, mas eu nunca gostei dele como pessoa.”
8. Os erros da polícia
A polícia foi duramente criticada no caso do assassinato de Versace. Inicialmente, eles demoraram a distribuir panfletos nas áreas de maior concentração gay da cidade, apesar da informação de que Cunanan frequentava boates e outros estabelecimentos voltados ao público gay.
Mas o maior erro veio da informação da dona de uma loja de penhores da região. Ela avisou à polícia que oito dias antes do assassinato de Versace Andrew Cunanan, o fugitivo que já era procurado por quatro homicídios, havia penhorado uma moeda em seu estabelecimento. Para isso, o criminoso preencheu o cadastro na loja com seu nome real, fornecendo também seu endereço e impressões digitais. Se o sistema da polícia fosse à época informatizado, eles teriam obtido essa informação antes do crime contra Versace.
9. O HIV de Versace
O segundo episódio de American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace exibe o estilista em um hospital de Miami de 1994, tratando de uma doença misteriosa que visivelmente o deixava muito debilitado. O médico o conforta, informando que “existem remédios, o tratamento é complexo, difícil, mas que há opções.”
Por toda a conversa, a série leva a crer que o estilista era portador do vírus HIV. Em seu livro Favores Vulgares, Orth alega ter conversado com diversas testemunhas próximas a Versace que confirmavam que o ícone tinha AIDS. Entretanto, a família de Versace desmente essa versão e afirma que ele teve um câncer na orelha, que havia sido curado seis meses antes do seu assassinato.
10. A tentativa de suicídio de Antonio D’Amico
No final de The Assassination of Gianni Versace, seu marido Antonio D’Amico é retratado tendo cometido uma tentativa de suicídio após o assassinato do estilista.
Em uma entrevista ao portal The Guardian em 2017, Antonio descreveu os momentos de depressão que sofreu em decorrência do homicídio de seu companheiro, mas nunca confirmou se houve a tentativa de tirar a própria vida.
Mesmo que não tenha correspondido à verdade em todos os fatos narrados, The Assassination of Gianni Versace é uma fascinante história focada não no famoso ícone da moda, mas no assassino que lhe tirou a vida. Com o sucesso de sua segunda temporada, resta saber qual famoso assassinato será o grande destaque da terceira temporada de American Crime Story.
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