Bojack Horseman | O vazio existencial e a busca da felicidade

Bojack Horseman chegou ao seu fim. A série acompanhou a trágica porém extremamente real vida de Bojack, um homem (ou cavalo) que teve que lidar em toda sua vida com a culpa e a solidão.

Bojack tinha um pai abusivo. Ele não conseguia sentir amor pelo próprio filho, e sempre descontava nele toda a sua frustração de ser um “fracassado”. Sua mãe, Beatrice, não era diferente.

Quando criança, a mãe de Bojack testemunhou um acontecimento extremamente traumático que ditaria o rumo de sua vida. Após engravidar do primeiro homem com quem ela teve algum relacionamento, Beatrice se afogou em uma vida de amargura e traumas, criando seu filho em um lar onde o amor não existia.

Assim cresceu Bojack, um cavalo problemático que mesmo repleto de fama e poder não consegue deixar de alimentar a tristeza e os traumas de seu passado. É nesse vazio existencial que está a genialidade da série, pois não é apenas Bojack que sofre.

Afinal, somos todos repletos de traumas.

 

Bojack Horseman e a Felicidade

bojack final

 

Razão, coragem e instintos. Para Platão, o indivíduo somente alcançaria a real felicidade quando estas três partes do ser humano estiverem em equilíbrio (e portanto, quando uma não contradisser a outra).

A busca por esse equilíbrio é o foco de todos os personagens dessa odisseia psicológica. Todos passam por diversos problemas, geralmente criados por suas famílias, como no caso do Bojack, Todd, Diane, Sarah Lynn e Princesa Carolyne. Tentam apenas encontrar a felicidade em uma vida tão cheia de decepções amorosas, sonhos não realizados e frustrações sociais. Todos na série estão em uma transição para alcançarem a felicidade, mas… o que é felicidade?

Para Zenão de Cítio, fundador da escola estoica, o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos. Em sua visão, a felicidade seria a paz absoluta, mas… será mesmo este o caminho? Ou melhor, será que existe um caminho, ou a felicidade são apenas momentos passageiros na vida?

No filme Into the Wild, de 2008, Christopher busca em sua nova etapa da vida a felicidade plena. Para encontrá-la, opta por deixar aborrecimentos, contrariedades e desassossegos. Como a filosofia estoica dita, ele se afasta completamente da sociedade, e busca uma vida isolado, mais próximo da natureza e distante dos avanços modernos. Após seguir com sua jornada de descobrimento, Chris chega a conclusão de que “A felicidade só é plena quando compartilhada.”

 

bojack horseman final

 

Estaria correto em seu pensamento? Em Bojack Horseman vemos um homem que sente um vazio muito grande dentro de si, e nos poucos momentos onde se sente bem, é quando este vazio é preenchido com as pessoas com que ele se importa. Pessoas que passam pela sua vida e de certa forma o impactam, que pela ausência de exemplos de afeto – e por muitas vezes não saber como reagir – acaba as afastando.

E não só Bojack age assim. Todd não sente atração carnal, mas precisa de alguém para lhe dar energia, para ter com quem discutir suas ideias e, apesar de não admitir, busca impressionar os pais, mostrar que conseguiu ser alguém.

Diane Nguyen, por sua vez, quer apenas se encontrar dentro de seus pensamentos e busca incessantemente alguém que a apoie. A busca por “alguém” é um tema recorrente e percorre todos os personagens desta série. Todos de alguma forma buscam se encontrar em outra pessoa, alguns para amarem e serem amados, e outros apenas para terem alguém com quem dividir seus pensamentos. Afinal, somos humanos, criaturas sociais.

Mas o inverso também acontece. Pina Butter, o personagem que aparenta ser o mais saudável de toda a série, também possui um amargor que foi trazido nesta nova temporada. Ele tem a busca eterna da paixão, da novidade. Não busca o amor, mas sim o relacionamento rápido, e isso é negado pelo personagem até que finalmente aceita a si mesmo. Pensava que estava buscando alguém com quem relacionar, quando na verdade apenas buscava se satisfazer. Sente-se bem quando sozinho, e demorou demais para perceber que a felicidade, para ele, é viver bem consigo mesmo.

 

bojack horseman na piscina

 

E este é o principal ponto que Bojack Horseman levanta: a felicidade não possui uma fórmula mágica e nem uma equação que deve ser seguida, ela é algo que – além de ser passageiro em pequenos momentos sublimes – é completamente diferente para cada tipo de pessoa. Bojack apenas buscava se aceitar e encontrar sua paz, além de um novo propósito para seguir, enquanto Diane buscava uma pessoa para a apoiar e continuar escrevendo aquilo que pensa sobre o mundo.

As pessoas são muito diferentes e a felicidade sempre será algo subjetivo para cada um. Somos construídos de experiências, tanto ruins quanto boas, e somente após encontrar nosso propósito, e o modo que queremos viver, poderemos encontrar a felicidade que tanto buscamos.

Isso é Bojack Horseman, uma série que tanto me fascinou ao longo desses anos. Que busca através do humor e de um exercício que aparenta ser totalmente oposto a realidade, uma forma de criticar a sempre imperfeita busca de uma poção mágica para a felicidade.

 

Gostou da nossa análise? Você pode também curtir nossa página no Facebook , no Twitter ou se inscrever em nosso canal no Youtube! 😉

Dereck Yan

Estudante de direito na universidade UNIG, escritor ainda não publicado, mestre de RPG e dono do canal Bunker Contemplativo.

One thought on “Bojack Horseman | O vazio existencial e a busca da felicidade

  • 11 Setembro, 2020 at 17:54
    Permalink

    oiii, me ajuda a fazer meu tcc de psicologia baseado no bojack, por favor

    Reply

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *