Aves de Rapina | A volta por cima de Arlequina? [crítica SEM spoilers]
Em uma era pós Vingadores: Ultimato, muito se fala sobre a saturação dos filmes de super-heróis. Nesse contexto, chega aos cinemas Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa.
Dirigido por Cathy Yan, o longa acompanha as peripécias de Arlequina (Margot Robbie) logo após seu término com o Coringa (Jared Leto). Com o fim do relacionamento, Arlequina perde sua imunidade com os chefões de Gotham, e se vê obrigada a unir forças com outras mulheres para se manter viva.
Em Esquadrão Suicida (DC), Arlequina foi retratada de forma hipersexualizada, objetificada e submissa ao Coringa. Este tipo de tratamento remete ao início das aparições de personagens femininos no Universo Cinematográfico da Marvel, há 10 anos atrás.
Mas Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa serviu para corrigir esses e outros erros.
A volta por cima de Arlequina em Aves de Rapina
Colorido, repleto de cores fortes e muito glitter, Aves de Rapina é um convite para adentrarmos na mente caótica de Arlequina. Pela narração não-confiável da anti-heroína, somos apresentados à trama de forma não linear.
No meio de uma cena, Arlequina quebra a 4ª parede e parece se lembrar que ainda não expôs todas as informações necessárias à compreensão do público. E assim, quando bem entende, ela rebobina a história e começa novamente a apresentação dos fatos.
Aves de Rapina é um filme que tenta fazer jus à personagem da Arlequina. Como o próprio título já diz, sua busca por emancipação é o caminho para o seu empoderamento. A começar pelas roupas.
Se em Esquadrão Suicida Arlequina usava roupas minúsculas, provocantes e voltadas ao male gaze, Aves de Rapina ecoa a presença de uma equipe formada majoritariamente por mulheres.
As roupas provocantes e postura hipersexualizada dão lugar a vestimentas confortáveis e compatíveis com cenas de ação. Nenhum detalhe é menosprezado: dos sapatos ao elástico de cabelo.
Nem as sequências de ação na “chuva” objetificam os corpos femininos. O mesmo serve para a cena em que Máscara Negra (Ewan McGregor) abusa de uma personagem. O foco e a câmera acompanha as feições do agressor, e não o corpo da vítima.
Além da diretora Cathy Yan e da roteirista Christina Hodson, o longa também conta por trás das câmeras com a presença da própria Margot Robbie. A atriz é produtora de Aves de Rapina por meio de sua companhia LuckyChap e foi graças à sua perseverança e insistência que o projeto foi para frente.
É o maior longa já produzido por ela, tendo custado US$ 75 milhões.
Arlequina exerce o evidente protagonismo do filme, mas ela não está sozinha.
A relação entre Arlequina e as Aves de Rapina
Umas das principais preocupações do público com Aves de Rapina era que esse fosse um filme mais preocupado em levantar a bandeira do empoderamento e sororidade do que contar uma boa (ou pelo menos divertida) história.
Por isso, vale dizer que Aves de Rapina não é um filme panfletário. Nele, as mulheres não são amigas a qualquer custo. Não há um ódio generalizado aos homens.
A união das mulheres é meramente circunstancial. Elas querem sobreviver, e para tanto são obrigadas a se aturarem. Mas isso não as torna amigas (um diferencial para filmes de ação protagonizados por mulheres como As Panteras).
O principal reforço desta ideia está em Arlequina. Com uma personalidade que é um misto de Deadpool com Jack Sparrow, a protagonista é caótica e egocêntrica. Não possui o menor interesse em se atrelar a ninguém, nem mesmo a um grupo de mulheres.
O fato de o longa não possuir caráter doutrinador torna as cenas em que há sororidade entre as mulheres ainda mais poderosas. Quando há um contexto, a mensagem não soa forçada.
E juntas, Arlequina, Renee Montoya (Rosie Perez), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) e Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) protagonizam as melhores cenas de ação em filmes de super-heróis dos últimos tempos.
Isso é fruto da escolha para o posto de diretor de 2ª unidade do longa, responsável pelas coreografias das cenas de ação e suas regravações. Chad Stahelski é o diretor e idealizador de John Wick, hino cult protagonizado por Keanu Reeves. Graças ao seu envolvimento no projeto, as cenas de ação se tornaram extremamente realistas, bem executadas e violentas.
Sobre o excesso de violência, palavrões e piadas proibidas para menores, Robbie se manifestou defendendo a escolha da equipe de produção:
“Acho que há um estigma de que um filme com classificação indicativa de 12 anos protagonizado por mulheres são considerados “filmes para garotas”. e é por isso que vamos fazer uma versão proibida para menores desse filme.”
Outro grande destaque do filme está nas personagens de Canário Negro e Caçadora. A primeira é provavelmente a que mais necessita de emancipação, além de Arlequina. Já a última, apesar de rasa, conquista por suas inabilidades sociais.
Aves de Rapina x Esquadrão Suicida
Mas afinal de contas, vale ou não vale assistir a Aves de Rapina?
A resposta aqui é depende.
Inicialmente, é bom dizer que Aves de Rapina é tudo o que Esquadrão Suicida prometeu ser – e não foi. Despretensioso, dinâmico e com um humor extremamente ácido, o longa proporciona momentos divertidos no cinema.
E só.
É provável que Aves de Rapina agrade o público que goste de longas com bastante humor ácido e violência, como é o caso de Deadpool. Mas mesmo para aqueles que gostarem do filme, a repetição de algumas fórmulas e piadas pode torná-lo um pouco cansativo e atrapalhar a experiência.
Se você gosta de uma boa sequência de ação e o que busca é passar quase duas horas em um mundo caótico, colorido e porpurinado, vá sem medo. Só não se apegue demais à Arlequina. Ela não quer se prender a ninguém.
E caso você prefira, temos também a versão em vídeo da nossa crítica SEM spoilers sobre Aves de Rapina:
Gostou da nossa análise? Você pode também curtir nossa página no Facebook , no Twitter ou se inscrever em nosso canal no Youtube!