Bird Box | 10 diferenças entre o livro e o filme

Há algum tempo o Netflix vinha tentando emplacar um filme bem sucedido em seu serviço de streaming. Para isso, contratou diversos nomes de peso em Hollywood para encabeçar projetos como Cargo (2017), Mudo (2018) e Aniquilação (2018). Mas foi apenas no final de dezembro de 2018, com a estreia de Bird Box, que a gigante de streaming quebrou records de sua plataforma.

Baseado no livro homônimo (Caixa de Pássaros, em português) de Josh Malerman, o longa foi escrito por Eric Heisserer, roteirista do aclamado A Chegada (2016), e dirigido por Susanne Bier. Bird Box é um thriller pós-apocalíptico que mostra a luta de Malorie (Sandra Bullock) para sobreviver com seus filhos em um mundo dominado por criaturas que, se avistadas, são letais aos humanos. Por isso, viver com os olhos vendados se tornou a forma mais eficaz de garantir a sobrevivência.

Bird Box foi inegavelmente um sucesso, e bateu recorde no Netflix ao ser visto por 45 milhões de assinantes ao redor do mundo apenas em sua primeira semana de estreia. Mas apesar dos números expressivos, as opiniões quanto ao longa foram divididas.

Dentre os insatisfeitos, a maior parte é composta pelos fãs do livro, que acharam que o filme deixou a desejar na construção da atmosfera do mundo pós-apocalíptico e no desenvolvimento da história. Como ocorre em todas as adaptações, em Bird Box também foram feitas diversas alterações entre a trama livro e a narrativa do filme.

A seguir, listamos as 10 principais modificações da adaptação do livro de Bird Box para o filme.

Cuidado com os spoilers!

1. A gravidez de Malorie em Bird Box

Um dos fatores que prejudicou a imersão no filme foi que, diferente do que ocorre no livro, a tomada do mundo pelas criaturas se intensificou em apenas um dia. No livro, a transição dos personagens para a nova realidade foi mais gradual.

A trama do livro de Bird Box, assim como a do filme, é dividida em duas partes. No presente, observamos a jornada de Malorie ao longo de um rio, na tentativa de levar seus filhos a um lugar seguro. Enquanto isso, vamos descobrindo pouco a pouco como Malorie chegou naquela situação, por meio de flashbacks que se iniciam no dia em que a protagonista descobriu sua gravidez, fruto de um sexo casual.

Em contrapartida, os flashbacks do longa têm início quando a gravidez de Malorie já está em estado avançado. Sem dar maiores detalhes sobre seu relacionamento, ela menciona em uma conversa com a irmã que o nome do pai da criança é Ryan.

No mesmo dia em que Malorie e a irmã vão à obstetra fazer exames, as criaturas chegam na cidade e o caos se instala nas ruas. Malorie perde a irmã, e encontra refúgio em uma casa repleta de estranhos.

Apesar de os eventos do filme escalarem de forma muito abrupta, um ponto positivo de ambas as obras é que observamos o mundo pelos olhos de Malorie. Dessa forma, não nos é explicado de onde surgiram as criaturas, ou o que elas querem. Não temos essas informações pela simples razão de que Malorie também não as possui. Além de ajudar na imersão, essa incerteza também contribui para a criação da atmosfera de tensão que cercam as obras.

2. A irmã de Malorie

Uma das personagens que mais sofreu alterações em seu arco narrativo foi a irmã de Malorie. Jessica (Sarah Paulson), que no livro se chamava Shannon, viu uma das criaturas enquanto conduzia o carro com sua irmã, provocando um acidente. Mesmo após ter sobrevivido, cometeu suicídio na frente de Malorie ao se jogar contra um caminhão.

Essa modificação representou uma grande perda para o filme, já que apesar do pouco tempo de tela a atuação de Paulson foi uma das melhores de Bird Box. Se o filme tivesse acompanhado o arco do livro, o destino de Jessica/Shannon teria sido diferente.

Enquanto Malorie era descrente, Shannon acreditou desde o início nas notícias que veiculavam sobre os estranhos “surtos” de suicídio ao redor do mundo. Ela começou a se preparar para o apocalipse, enquanto tentava convencer a irmã do mesmo.

Quando os incidentes chegaram nos EUA, as irmãs perderam contato com os pais e Malorie começou a levar o assunto mais a sério. As duas moravam juntas, mantinham a casa com as janelas fechadas e portas trancadas e saíam apenas para buscar suprimentos no mercado. Em um determinado dia, meses após o início do surto, Malorie encontra Shannon morta no banheiro. Ela havia tirado sua própria vida após olhar acidentalmente para uma criatura.

É o suicídio de sua irmã que impulsiona Malorie a sair de casa e buscar refúgio em um lugar divulgado em um anúncio de jornal.

3. Os moradores da casa no filme Bird Box

O núcleo da casa no filme Bird Box e no livro também são diferentes. Como os acontecimentos no filme ocorrem de forma muito acelerada, não houve tempo para a apresentação ou desenvolvimento de seus moradores. Quando Malorie chega na casa logo após o acidente de carro provocado por sua irmã, ela conhece Tom, Douglas, Cheryl, Lucy, Charlie, Felix e Greg, dono da casa. Após, os moradores também permitem a entrada da grávida Olympia e do enigmático Gary.

A enorme quantidade de personagens somado ao pouco tempo de tela de cada um faz com que o filme termine sem que o público consiga precisar o número de habitantes da casa. Principalmente porque, à exceção de Tom, Douglas, Gary e Olympia, são todos descartáveis.

No livro, o número de habitantes é menor. Ao chegar, Malorie é recebida por Tom, Don, Cheryl, Jules e Felix. O dono da casa Greg já havia se sacrificado pelo grupo em um experimento que visava descobrir se enxergar as criaturas por meio de telas de computador teria o mesmo efeito na mente humana.

O único que foi contra a recepção de Malorie foi Don, que não queria dividir os suprimentos com mais uma pessoa ou ser responsável por uma grávida. Assim como ocorre no longa, após chegam na casa Olympia e Gary, tendo Don votado contra o acolhimento deles também.

Enquanto no filme há diversos núcleos na casa, no livro seus habitantes são unidos e desenvolvem tarefas a serem desempenhadas por todos. Há uma rotina e organização, e Tom, que perdeu sua filha para as criaturas, assumiu a liderança por ser a pessoa que impulsiona os moradores a viverem, além de apenas sobreviverem.

O excêntrico Douglas (John Malkovich) não existe no livro, mas pelos seus trejeitos ele se assemelha ao cauteloso Don. A diferença entre eles é que enquanto Don sofreu lavagem cerebral de Gary e foi quem abriu as janelas para as criaturas, Douglas foi prudente até o final e lutou para salvar os habitantes da casa das criaturas.

Apesar de no filme Tom e Malorie formarem um casal, no livro eles nunca se envolveram. Malorie gostava de Tom e sentia muita segurança com sua presença, mas não fica claro se ela nutria sentimentos mais fortes por ele. O desfecho de Tom no livro também é diferente. Ele morre junto com todos os demais habitantes no dia em que Don e Gary abrem a casa, restando Malorie como a única sobrevivente.

4. A aparência das criaturas

Apesar de não terem aparecido na versão final do longa, as criaturas de Bird Box quase estiveram visíveis para os espectadores. O especialista em efeitos visuais Andy Bergholtz publicou em sua conta no Instagram modelos de como seriam as criaturas que apareceriam na cena deletada do filme. Mais tarde, as imagens publicadas no perfil foram deletadas.

Felizmente, as criaturas não chegaram a aparecer na versão final de Bird Box. Da mesma forma, não há descrição disponível de como seria a aparência dos monstros no livro, pela simples razão de a protagonista também não ter essa informação. Afinal, se todos aqueles que vissem a criatura morreriam, como alguém conseguiria descrever sua aparência?

5. A intenção dos monstros

Além do visual aterrorizante, há outro indício no filme que nos leva a crer que as criaturas desejavam o extermínio dos humanos. Os monstros chamavam os nomes de suas vítimas, tentando atraí-las e induzi-las a abrirem os olhos.

Entretanto, no livro a real intenção dos monstros é incerta para Malorie e, em consequência, para os leitores. Em diversas passagens no livro a protagonista se questiona se as criaturas são malvadas e buscam a aniquilação da vida na Terra, ou se elas não fazem ideia do efeito que produzem nos outros seres vivos.

6. O efeito das criaturas nos animais

Em Bird Box, não há a aparição de muitos animais, exceto pela caixa de pássaros que Malorie carrega como um sistema de alarme indicando a proximidade dos monstros. Dessa forma, não se pode precisar se os pássaros também seriam afetados pelos poderes malignos das criaturas.

Já no livro o poder das criaturas sobre todos os animais é um fato. Em uma passagem extremamente tensa, Malorie e as crianças estão próximas do santuário quando centenas de pássaros começam a brigar entre si, fazendo “chover” sangue e aves mortas. Em outro momento, Victor, o cachorro herdado por Malorie, enlouquece ao avistar uma criatura e tenta atacar a protagonista.

7. A alegoria da depressão

Uma teoria que inundou a internet foi que as criaturas malignas de Bird Box serviam na verdade como uma representação da depressão, já que não podem ser vistas a olho nu e podem levar ao suicídio. Essa teoria também se baseia no fato de que cada habitante da casa estava passando por momentos difíceis, seja advindos da perda de um ente querido, de uma gravidez indesejada ou da falta de amor próprio.

De acordo com esta alegoria, os pássaros seriam as lembranças de momentos mais felizes, e assim como no filme, eles trariam esperança aos moradores.

Por mais que essa teoria faça sentido no filme, não parece ter sido esta a intenção de Josh Malerman ao escrever o livro. A obra é uma eletrizante e tensa narrativa focada na jornada de amadurecimento de Malorie em meio ao mundo pós-apocalíptico. E o fato de estar em condições tão severas pode ter obrigado Malorie a se aproximar de seus filhos mais do que ela seria capaz antes do apocalipse, já que há indícios de que Malorie estava deprimida com a gravidez indesejada.

8. A escolha de Malorie

Uma das cenas que ilustra bem a alegoria para a depressão em Bird Box é o momento em que Malorie está no rio em busca do abrigo e avisa às crianças que alguma delas terá que se sacrificar e abrir os olhos. O Garoto se prontifica para a missão, mas em uma das cenas mais pesadas do filme, Malorie recusa a ajuda do menino, dizendo que ela que vai escolher quem abrirá os olhos quando chegar o momento. Provavelmente por ser seu filho biológico, Malorie tenta protegê-lo. No entanto, ao fazê-lo, acaba indiretamente condenando a Menina, que se sente descartável aos olhos da mãe.

No livro, isso jamais aconteceu. Desde o início, Malorie sabe que em algum momento ela terá que abrir os olhos para enxergar a passagem para o esconderijo à direita do rio. Na obra original, nunca passou pela cabeça de Malorie sacrificar uma das crianças em prol dela mesma.

9. Os imunes aos monstros

Bird Box deixa implícito o motivo pelo qual algumas pessoas são imunes às criaturas. No livro, a explicação é clara: pessoas insanas ou com distúrbios mentais não são atingidas pelos monstros. Isso porque as criaturas afetam a sanidade dos seres, de modo que não se poderia atingir alguém que já não é são.

Apesar dessa explicação fazer algum sentido para a proposta narrativa, é inegável que isso contribui para estigmatização de pessoas com transtornos mentais. Afinal, em Bird Box as pessoas consideradas insanas pela sociedade são tão perigosas quanto as próprias criaturas, já que acreditam que elas são mensageiras da verdade que vieram ao mundo para libertar os humanos, e tentam obrigar os sobreviventes a abrirem os olhos.

Mesmo que de forma não intencional, Bird Box acaba por vilanizar os indivíduos que possuem transtornos mentais, o que é um desserviço para aqueles que lutam diariamente contra esses distúrbios. Para não ganharem o estigma de “louco”, muitas pessoas deixam de procurar ajuda, e o assunto se torna um tabu.

Era realmente indispensável que os insanos se tornassem os vilões?

10. A segurança do santuário

No final de Bird Box, Malorie e as crianças finalmente encontram a segurança do santuário, um antigo instituto para cegos. Em um mundo onde enxergar pode ser mortal, aqueles que não possuem visão são de fato os mais aptos a sobreviver.

Entretanto, o livro é um pouco mais sombrio. Ao chegar no instituto, Malorie impede que as crianças removam suas vendas ao descobrir que muitos habitantes se cegaram intencionalmente para não correrem o risco de serem afetados pelas criaturas. Eventualmente, o responsável pelo santuário a convence de que esta prática foi descontinuada ao longo do tempo, e Malorie se sente segura o suficiente para autorizar que as crianças removam suas vendas.

Apesar de não ser uma obra-prima como Um Lugar Silencioso, Bird Box é um dos maiores sucessos da Netflix por tratar de forma esperançosa uma situação apocalíptica. Além disso, algumas modificações ao livro, como a metáfora para a depressão, ajudaram a enriquecer ainda mais a narrativa. O filme passou a tratar não somente da sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico, como também do enfrentamento de situações e demônios reais, com os quais o público pode se identificar.

Você gostou das modificações feitas pelo filme em comparação ao livro? Deixe nos comentários qual foi sua versão favorita!

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