Vingadores: Guerra Infinita | Hulk e a ansiedade de desempenho

Medo de Thanos? CGI caro demais? Mais tempo de tela para Mark Ruffalo? Afinal, o que aconteceu com Hulk em Vingadores: Guerra Infinita?

Diante da profusão de heróis em Guerra Infinita, o que mais marca a obra não é o excesso, mas sim a falta de um específico: o gigante esmeralda. Como perdoar o craque que não entra em campo na hora que o time mais precisa?

Para isso, precisamos entender este novo arco narrativo que Marvel e Mark Ruffalo prepararam para Hulk, um dos personagens mais queridos (e overpowers) do universo cinemático da Marvel. A relação Bruce Banner e Hulk sem dúvidas oferece potencial para um desenvolvimento mais complexo do que simplesmente um recurso deus ex machina para aparecer na hora H, quebrar tudo e salvar o dia. E nesse ponto, Vingadores: Guerra Infinita foi ousado e nos apresentou uma virada interessante, tirando o craque da final do campeonato.

E a Marvel nos enganou segurou isso até o último momento, considerando que Hulk estava no trailer do filme, na cena de guerra em Wakanda.

 

Hulk no trailer de vingadores guerra infinita

 

Os motivos para a crise nervosa de Hulk, no entanto, ainda estão sendo discutidos pelos fãs. A principal hipótese levantada é a de que o personagem, após a luta com Thanos, teria tomado consciência pela primeira vez de sua mortalidade, passando a ficar com medo de enfrentar novamente o vilão e seu exército do mal. Mais uma vez, nos parece um pouco mais complexo que isso.

E essa história já vinha sendo contada desde o exílio de Hulk, após os eventos de Vingadores: Era de Ultron.

 

O arco narrativo de Hulk/Banner

hulk frustrado

 

Em uma entrevista para a IGN em 2017, Mark Ruffalo deixou claro que Thor: Ragnarok seria o início deste processo evolutivo do Hulk, que passaria por Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores 4, em uma espécie de trilogia para o personagem. Segundo o ator, o produtor e presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, teria lhe perguntado o que ele gostaria de ver caso o personagem tivesse um novo filme solo. Feige amou a resposta de Ruffalo e propôs: “e se usássemos esses 3 filmes para, basicamente, fazer um solo do Hulk?”.

Thor: Ragnarok nos mostrou que o Hulk seria mais complexo do que simplesmente uma máquina de destruição movida a raiva. Em seu exílio de dois anos após Vingadores: Era de Ultron, Hulk viveu confortavelmente em Sakaar como um gladiador, desfrutando de uma vida de celebridade. Já em Guerra Infinita, a Marvel continua nos mostrando o quão profundo pode ser o personagem, sendo capaz de outros sentimentos além da raiva, como o medo que sente após ter sido derrotado em uma batalha mano a mano com Thanos. E o que nos reservaria Vingadores 4? Provavelmente um equilíbrio entre o protagonismo de Hulk em Thor: Ragnarok e o protagonismo de Banner, em Guerra Infinita.

Faremos mais especulações ao longo da resenha, mas primeiro: por que raios Hulk não apareceu em Guerra Infinita?

 

Medo ou Frustração?

bruce banner em vingadores guerra infinita

 

A decepção de Bruce Banner por não conseguir trazer o Hulk à tona é a mesma que ficamos como espectadores. E tal como a ausência de Neymar no 7×1 contra a Alemanha, ficamos com a pergunta esperançosa: será que a presença do craque do time poderia ter revertido o vexame?

Para o terror de Hulk/Banner, este acabou sendo um dos assuntos mais falados sobre Guerra Infinita. E enquanto a grande maioria das análises traz como principal motivação para a ausência de Hulk seu possível medo de Thanos e a paralisia diante de um primeiro confronto com sua própria mortalidade, nesta resenha abordaremos a situação de uma outra perspectiva: a da ansiedade de desempenho.

Não que a hipótese do medo não faça sentido. No primeiro filme dos Vingadores, Bruce Banner admite que teria atirado em si mesmo, mas o “outro cara” teria impedido sua tentativa de suicídio ao “expelir” a bala. Ou seja, diante da experiência Banner desenvolveu uma crença sobre sua provável imortalidade, acreditando ser indestrutível. Crença esta que foi suportada por mais evidências em Thor: Ragnarok, onde Hulk se provou imbatível, e ostentou o título de maior gladiador das galáxias.

 

hulk em thor ragnarok

 

No entanto, no brilhante prólogo do filme, Hulk tem um confronto direto com Thanos em uma luta corpo a corpo, sua modalidade de preferência. Apesar de ter entrado no combate com extrema confiança, logo foi sobrepujado pela força de Thanos, que já contava com a joia do poder em sua manopla. Hulk poderia de fato ter sido morto, se não fosse ajudado por Heimdall, que o enviou para a Terra. Diante desta experiência de quase morte, quebrando sua expectativa de ser indestrutível, seria legítimo que o personagem desenvolvesse um medo paralisante diante dos avanços do Titã.

Mas talvez não seja uma questão tão simples. Se a psiquê humana já é difícil de ser interpretada e entendida, imagine a psiquê de duas criaturas que compartilham o mesmo cérebro. Sendo uma delas uma verdadeira máquina verde de raiva e destruição.

Não é só o medo que pode ser paralisante, mas também a frustração. Quando temos expectativas sobre como algo irá se desenrolar, ou sobre nossa performance em alguma situação, e as coisas acabam acontecendo de forma diferente do que esperávamos, geralmente ficamos frustrados. E quanto mais nos importamos com os resultados em um determinado cenário, ou seja, quanto mais expectativas possuímos, maior é o potencial desta frustração. O que é bastante natural.

Não obstante, a frustração experimentada pode impactar negativamente nossas futuras ações, fazendo com que evitemos situações parecidas com as em que enfrentamos este sentimento. É uma resposta do nosso cérebro para evitar o sofrimento.

É onde nasce a ansiedade de desempenho.

 

Ansiedade de Desempenho

hulk em thor ragnarok com thor

 

Até certo grau, a ansiedade não só é normal, como essencial para a nossa sobrevivência. Afinal, é a reação do nosso organismo diante de situações de risco, ou de ameaças iminentes. Ela nos faz, portanto, evitar situações perigosas. No entanto, em altos níveis a ansiedade pode se tornar um problema.

A ansiedade passa a ser patológica quando começa a se manifestar de forma exagerada, incompatível com a situação em que se apresenta. No caso de Hulk, a ansiedade em enfrentar Thanos novamente, após a surra experimentada no primeiro confronto, seria completamente natural. No entanto, em cenários mais “cotidianos”, como no combate com os filhos de Thanos em Nova York, ou até contra seu exército em Wakanda, a impossibilidade do gigante esmeralda em reagir é uma manifestação de sua ansiedade de desempenho ou performance.

Como diz o nome, a ansiedade de desempenho ocorre em situações em que o indivíduo precisa “performar”, mas sofre algum tipo de bloqueio. É frequente em atletas e músicos que precisam se apresentar em frente a grandes multidões, mas também é comum a nível sexual. Ocorre então um grande sentimento de agitação e nervosismo, que acaba por causar insegurança e questionamentos sobre a capacidade do indivíduo para realizar a tarefa.

Os gatilhos para essa sensação que foge ao controle podem ser de naturezas diversas: um ambiente desconhecido e diferente dos locais onde o atleta costuma treinar; a pressão para atingir resultados irreais, como por exemplo bater um recorde; a percepção errada de nervosismo, quando por exemplo, naturalmente a frequência cardíaca e a transpiração aumentam em uma situação pré-jogo e o indivíduo interpreta as reações do corpo como medo ou incapacidade. Outra causa recorrente é a sombra de fracassos e frustrações passadas.

Diante disto, cria-se uma situação de “ciclo vicioso”. Diante de uma situação em que o indivíduo precisa apresentar um bom desempenho, é despertada uma ansiedade exagerada por conta da memória de fracassos anteriores, ocasionando, portanto um novo fracasso. Para se preservar deste processo altamente frustrante, o sujeito muitas vezes desenvolve um comportamento evitativo. É o que vemos ao longo de Vingadores: Guerra Infinita. Bruce Banner tenta invocar o Hulk nos momentos em que sua participação é crucial, mas exatamente por esta pressão, a criatura diz “não” e evita a situação, por medo de uma nova frustração, como a ocorrida ao enfrentar Thanos no início do filme.

É a forma que Hulk encontra para evitar o ciclo vicioso de ansiedade e frustração.

 

bruce banner em vingadores guerra infinita camisa rasgada

 

Obviamente, esta não é a melhor forma de lidar com esta situação, mas é uma resposta bastante comum. Muitas vezes pessoas normais e profissionais extremamente capazes se sentem incapazes de realizar tarefas cotidianas, por anteciparem uma possível frustração. E este comportamento pode ser extremamente danoso a autoestima do indivíduo, que passa a se sentir incapaz.

Mas qual seria a opção de Hulk para lidar com sua ansiedade de desempenho?

Em geral, algumas recomendações são buscar atividades que visem reduzir a ansiedade, como programas ao ar livre, exercícios físicos e a meditação. Em paralelo, procurar restaurar a confiança, através da busca por evidências que mostrem casos de sucesso, onde o indivíduo performou a tarefa de maneira satisfatória. E claro, construir novas evidências deste tipo, buscando situações em que a pessoa se sinta segura para enfrentar sua ansiedade em um ambiente controlado.

Ao que tudo indica, esta será a terceira etapa do arco de Hulk/Banner, como discutido na conversa entre Mark Ruffalo e Kevin Feige. Se em Thor: Ragnarok tivemos a prevalência de Hulk e em Vingadores: Guerra Infinita, a de Banner, é muito provável que em Vingadores 4 seja atingido o equilíbrio entre as duas “entidades”. Seria a redenção da luta entre Hulk e Banner, gerando a “trégua” entre as duas personalidades e a autorrealização do personagem.

Este sim seria um Hulk imbatível, capaz de canalizar sua raiva da maneira certa e passível de ser controlado pela inteligência e pensamento estratégico de Banner.

Até lá, fique tranquilo, Hulk. Pode acontecer com qualquer um.

 

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Marcos Malagris

Publicitário, professor de marketing digital e Psicólogo, gasta seu escasso tempo livre navegando na Interwebz, consumindo nerdices e contemplando a efemeridade da existência. Me siga no Twitter ou no Facebook!

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