Lidando com spoilers: um exercício de evolução pessoal

Calma, antes de tudo queria dizer que eu também odeio spoilers.

Nós vivemos em uma época fantástica, apesar de alguns efeitos colaterais de toda a conectividade, como a alta probabilidade de alguém te contar o final da sua série preferida. E não sei você, mas esse problema dos spoilers é uma das poucas coisas no mundo que tem o poder de realmente me irritar.

 

 

E comecei a ficar assustado, percebendo que não existiria nada que eu pudesse fazer para mudar o fenômeno dos spoilers nas redes sociais.

Eu poderia evitar o Facebook, mas eu estaria me privando da minha liberdade. Poderia dar unfollow em todos que me desses spoilers, mas não queria viver em uma bolha. Iria acabar bloqueando pessoas que poderiam me trazer outros conteúdos interessantes. Ou poderíamos todos escrever um tratado ético sobre spoilers em redes sociais e obrigar todos a assinarem, sob o risco de serem banidos.

Mas o ponto de virada foi quando as próprias páginas oficiais de séries começaram a postar spoilers. Desde então, ninguém mais está a salvo.

Esse post conta a história de como eu encontrei o perdão no meu coração e entendi que o meu problema com spoilers era uma questão que eu precisava resolver comigo mesmo.

Vai que ajuda mais alguém.

 

O Modelo Kübler-Ross dos spoilers

 

Estágio 1: negação

“Não é possível, isso não é um spoiler. Relaxa, ele só tá falando que alguém importante morreu, mas não tá falando quem é, então tá tranquilo, sempre morre alguém mesmo”. Vai ver a pessoa tá só brincando.

Afinal, por que motivo alguém iria deliberadamente estragar a experiência de uma outra pessoa, certo? E aí o próximo post é um artigo do Buzzfeed com a foto de um peronsagem e a chamada “As 10 melhores teorias sobre a morte do episódio dessa semana. Você não vai acreditar na número 8”.

 

Estágio 2: raiva

Por que alguém faria isso? Quem viu o episódio sabe o que aconteceu, não precisa ficar falando. E quem não viu vai perder a chance de ver algo pela primeira vez. Realmente não tem o menor propósito. E aí você passa a odiar a pessoa e pensar seriamente no unfollow.

 

spoiler é carênciaFonte: Imagens Good Vibe com Frases Polêmicas

 

Estágio 3: negociação

“Só mais dois dias, é tudo que eu peço. Esperem pelo menos dar o tempo de alguma alma caridosa subir o torrent e aí a gente fala sobre o que aconteceu. Por favor, nunca te pedi nada.”

 

Estágio 4: depressão

Já era, agora não adianta. Você já tomou o spoiler e o episódio não vai ser a mesma coisa. Conseguiram te roubar o prazer de assistir a sua série favorita e não há nada que você possa fazer. O mundo é cruel e você nunca mais quer assistir outra série.

 

Estágio 5: aceitação

Você pode ficar irado como um cão raivoso da forma como as coisas acontecem… você pode praguejar e amaldiçoar o destino… mas quando chega perto do fim… Você tem que perdoar.
O Curioso Caso de Benjamin Button

Tive que parar e refletir. Se uma coisa tão pequena no grande esquema do universo era capaz de me causar esse desconforto tão grande é porque eu tinha um problema realmente sério com isso. Eu lutava muito contra isso, até perceber que não ia ter jeito: eu teria que superar essa questão. Percebi que era um problema meu.

Como diria Epiteto, “o que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos”. Em outras palavras, o que te afeta é o que você deixa te afetar. E eu decidi não me deixar afetar tão negativamente. Mas não é tão simples, porque esse é um problema de controle.

 

Um problema de controle e resistência a mudanças

Tentar controlar demais o mundo à sua volta é a receita certa para gerar ansiedade e estresse.

Apesar disso, ainda insistimos nesse erro. Some a isso a resistência natural que temos a mudanças e preparamos o terreno perfeito para a frustração. Nosso instinto de controlar o ambiente e manter as coisas como elas são e estamos acostumados é muito forte. Conforme vamos ficando mais velhos, ficamos ainda mais suscetíveis à rejeição de novos comportamentos, rotinas e modelos de vida diferentes dos nossos.

 

Gran Torino - Clint Eastwood

 

Percebi que estava me tornando como as pessoas que não entendem que a língua é um instrumento, uma coisa viva, e quem manda de verdade são as pessoas que a usam. Ou seja, nós temos o direito de evoluí-la, modificá-la e um dia acabar com a crase, se quisermos. Da mesma forma, o modo de ver séries mudou. E por mais que não gostemos desse novo modo, não vai dar pra fugir para sempre.

Assim como outras mudanças na vida, vamos ter que nos adaptar ou continuar sofrendo. E isso é um baita exercício de evolução pessoal.

 

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Marcos Malagris

Publicitário, professor de marketing digital e Psicólogo, gasta seu escasso tempo livre navegando na Interwebz, consumindo nerdices e contemplando a efemeridade da existência. Me siga no Twitter ou no Facebook!

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