Crazy Ex-Girlfriend | Exagerada, irônica e politicamente incorreta (mas você vai gostar!)

Demorei a querer assistir Crazy Ex-Girlfriend exatamente por seu título. Pô, outra obra que pinta a mulher como a ex maluca…que desserviço para o mundo, pensei.

Mas aí comecei a receber muitas recomendações para assistir a série, então acabei cedendo e dando uma chance para o show. Se eu me arrependi? Sou libriana, e aqui exerço minha prerrogativa de ficar em cima do muro.

O enredo da série, que tem suas duas primeiras temporadas disponíveis no Netflix, é perfeitamente resumido em seu tema de abertura:

 

 

Rebecca Bunch (Rachel Bloom – que está super bem na série, como todo o elenco) é uma advogada inteligente e workaholic que trabalha num grande escritório em Nova Iorque. Apesar disso, está extremamente infeliz com sua vida. Quando encontra pelas ruas de Manhattan Josh, um ex namorado de 10 anos atrás e que mora em West Covina, decide largar tudo para correr atrás do boy. Ela então se muda para West Covina, arranja um emprego num escritório local e começa a fazer literalmente de tudo para ser notada por Josh.

Largar tudo para correr atrás de homem? Miga, isso é tão século passado!

Logo após a virada do milênio foi lançado Legalmente Loira, filme que emplacou Reese Whiterspoon no gênero de comédias românticas e que possuía enredo muito similar: uma mulher considerada fútil e superficial leva um pé na bunda do namorado, que diz que não pode mais continuar no relacionamento porque ela não é inteligente o suficiente. Ela então, para provar que é sim capaz e com isso reconquistar seu ex, passa em direito em Harvard e começa a cursar a universidade, tudo para ter de volta o homem que tinha a chamado de burra.

 

Reese Whiterspoon em Legalmente LoiraNão é possível que se passaram 16 anos e não aprendemos nada com isso

 

Irônica?

Acontece que Rachel Bloom, produtora e protagonista de Crazy Ex-Girlfriend, parece usar o enredo da história de forma irônica. No próprio tema de abertura, quando todos estão em uníssono cantando “She’s the crazy ex girlfriend”/”Ela é a ex namorada maluca”, Rebecca Bunch repreende: “Ei, isso é um termo machista!“.

O título de todos os episódios faz referência a Josh: “Por coincidência, Josh mora aqui“, “Estou no acampamento com Josh“, “Por quê Josh está triste?“.

Aparentemente, Rebecca Bunch é uma mulher independente e bem resolvida. Ela se orgulha muito de ter cursado Harvard, e em vários momentos ela mesma tira sarro do fato de estar fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Ela não tenta se encaixar em nenhum rótulo, e parece satisfeita na própria pele. Parece.

Ao mesmo tempo, ela faz de tudo para chamar a atenção de Josh, mesmo que isso envolva se humilhar e quebrar alguns corações pelo caminho. Ela é egocêntrica, e não tem consideração por ninguém (ironicamente, nem por ela mesma). É possível que devido a essas características você não goste dela, e em vários momentos a série parece querer isso.

 

rebecca bunch dizendo que é um lixo em Crazy Ex-GirlfriendHeavy shit

 

A princípio, ela fica em negação e mente para si, convencendo-se de que tudo que ela faz é fruto de escolhas suas, e que não têm nada a ver com o seu crush. É triste ver sua falta de amor próprio, ao mesmo tempo que isso nos traz reflexões, já que, não sejamos hipócritas, quem nunca, né.

À exceção de White Josh (o “original” é filipino), o núcleo masculino da série é todo retratado como infantil, incluindo Josh, que é pintado como um crianção imaturo, ingênuo, mas que tem um bom coração.

Quanto às mulheres, ressalvando Bunch, são todas gostáveis, com um senso de sororidade infinitamente maior que o da protagonista. Isso é presente até mesmo em Paula, melhor amiga de Bunch, que por estar tão entusiasmada com a nova amizade acaba tomando várias atitudes moralmente questionáveis numa tentativa de ajudar a amiga e vê-la feliz.

 

Comédia politicamente incorreta

Crazy Ex-Girlfriend obteve baixa audiência em sua primeira temporada e quase foi cancelada, mas conseguiu renovação para outras temporadas porque foi sucesso de crítica.

A série possui uma proposta inovadora. Ela é majoritariamente uma comédia politicamente incorreta, mas apesar de não ter um enredo sobre música (como Glee ou High School Musical), há 2 números musicais por episódio.

No entanto, mesmo quem não gosta de musical pode acabar gostando da série, porque esses números são engraçados, inteligentes, politicamente incorretos, e em grande parte faz referência a um estilo musical ou época. Além disso, em sua maioria fazem alguma crítica a seus personagens ou à nossa sociedade. Não é um musical por amor ao gênero. É por amor à zoeira.

Por exemplo, nesse número “Vamos generalizar sobre homens“:

 

 

Na cena, as mulheres começam a difamar todos os homens, cantando como são todos canalhas, estupradores, até que alguém fala: “Ué, até mesmo os gays?“. Então, rola uma chuva de esteriótipos com relação aos gays, como são todos porpurinados, felizes e divertidos.

Paula então percebe que está falando sobre todos os homens, mas que é mãe de dois meninos. E aí que a série fica totalmente politicamente incorreta, e o número fecha com a pérola “Seus filhos se tornarão estupradores!

O ponto fraco de Crazy Ex-Girlfriend é que embora seja engraçada e inteligente, a série acaba ficando cansativa, pois cada episódio de 40 minutos tem 2 números musicais, o que torna sua fórmula um pouco repetitiva. Funcionaria melhor se fossem episódios curtos, de 20 minutos, e se as temporadas tivessem menos episódios.

Apesar do enredo principal de Crazy Ex-Girlfriend ser aparentemente um desserviço às mulheres na medida em que retrata sua protagonista como uma maluca stalker que larga tudo para recuperar seu amor platônico, a série ironiza em cima disso.

Sua proposta crítica e politicamente incorreta é toscamente divertida, e o elenco com ótimas atuações faz dela um guilty pleasure. No entanto, por ser repetitiva, a primeira temporada já é mais que o suficiente para divertir sem exaurir o telespectador.

 

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Boo Mesquita

Geek de carteirinha e cinéfila, ama assistir a filmes e séries, ir a shows, ler livros e jogar, sejam games no ps4 ou boards. Quando não está escrevendo, pode ser vista fazendo pole dance, comendo fora ou brincando com cachorrinhos. Me siga no Instagram!

9 thoughts on “Crazy Ex-Girlfriend | Exagerada, irônica e politicamente incorreta (mas você vai gostar!)

  • 27 Março, 2018 at 14:01
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    Cara veja de novo a série que acho que vc não entendeu, é uma sátira aos esteriótipos, que são usados de forma tosca é ridícula para denunciar o quando são reidiculos de um modo geral.

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    • 28 Março, 2018 at 19:02
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      Acho que devo ter me expressado mal, pois acho que você está certíssima Tuanny! Acho que a série ironiza os esteriótipos, gostei bastante dela =)

      No início do texto expliquei que tive preconceito com ela e demorei a assisti-la porque sua sinopse me passava a ideia de ser machista, mas quando percebi que era uma crítica, adorei! Resolvi então fazer esse post para que mais pessoas conhecessem a série ^^

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      • 15 Outubro, 2019 at 22:43
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        Só discordo onde você diz que os episódios deviam ser mais curtos e em menor número por temporada. TINHA ERA QUE TER MUUUUUITO MAIS EPISÓDIOS DE 3 HORAS!!!! Melhor série do mundooooo

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  • 5 Maio, 2018 at 10:31
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    EU AMO A SÉRIE!
    ESTOU TRISTE QUE ENCERRARÁ NA 4 TEMPORADA.

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  • 16 Maio, 2018 at 12:17
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    Amo de paixão essa série! E acho que, como seu texto foi publicado no fim de 2017, a séria tinha só começado a entrar de verdade na questão da saúde mental da Rebecca, que eu acho que foi o ponto mais forte da terceira temporada.
    E acho que não entendi muito bem o uso que você fez do “politicamente incorreto”, tô acostumada a ver essa expressão relacionada, por exemplo, a piadas preconceituosas, e definitivamente não é uma situação que eu vi na série, exceto, claro, cercada de ironia.

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    • 10 Janeiro, 2019 at 12:03
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      Concordo demais com você, Ana! A terceira temporada e a quarta estão tratando com muita maturidade a questão da saúde mental — queria destacar principalmente a cena da 4ª em que o Josh, que acha que tem um trilhão de transtornos, é desmentido pelo terapeuta. Ele pergunta “Mas e agora? Se eu não tenho nada disso, o que eu faço pra melhorar?”. E o terapeuta responde “Continue fazendo exatamente o que está fazendo: vindo aqui e falando comigo”. Simplesmente muito bom. E também não a vejo relacionada ao “politicamente incorreto”. No mais, AMO ESSA SÉRIE.

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  • 24 Junho, 2018 at 20:01
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    Eu acho maravilhosa, no começo parece raso, mas ao passar dos episodios nós vemos como é pesada a tematica, como ela é triste e solitaria, e apesar de não se encaixar nos moldes de corpo perfeito, Rebeca não se importa nem um pouco. Eu amo o fato de ela não enxergar que precisa mais de amigos do que de um namorado, eu amo o fato de abordar uma doença mental tão despercebida. Ela tem muito mais do que aparenta.

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  • 1 Outubro, 2019 at 22:54
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    Mesmo essa cítica tendo se limitado as duas primeiras temporadas disponiveis na epoca de publicação do post, eu posso te garantir q vc entendeu tudo errado kkkkkkkkkk

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    • 3 Outubro, 2019 at 15:50
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      Por aqui, entendemos como uma série que utiliza da ironia para fazer críticas aos mais diversos comportamentos sociais…como você entendeu? Abraços!

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