Os Inocentes | Busca pela identidade e mistérios para a segunda temporada

Imagine uma história em que uma adolescente de 16 anos possui um pai controlador e vive um amor impossível com um colega de classe. Seu pai quer mandar a jovem donzela para longe, de modo que ela nunca mais verá seu namorado. Eles decidem então se rebelar e fugir, para que possam permanecer unidos e se amar em paz. Este é o enredo de Os Inocentes, nova aposta de série do Netflix voltada para o público adolescente.

Mas esqueça Romeu + Julieta, Crepúsculo ou Moonrise Kingdom. Os Inocentes é diferente porque nesta história a jovem June (Sorcha Groundsell) descobre que é uma shapeshifter (metamorfa). Só que infelizmente trocar vampiros por metamorfos não é uma mudança o suficiente para trazer originalidade à obra.

Criada por Hania Elkington e Simon Duric, a série conta a história de June e Hary (Percelle Ascott), que fogem de Yorkshire para viver seu amor longe do padrasto controlador de June (Sam Hazeldine), que quer se mudar com ela para a Escócia. Elena (Laura Birn), a mãe de June, os abandonou misteriosamente anos atrás, e agora vive no interior da Noruega, em um lugar recluso chamado Sanctum, dirigido pelo médico e cientista Halvorson (Guy Pearce, o único ator mundialmente conhecido e que faz parte da série apenas como um recurso para angariar telespectadores).

O seriado é uma obra para o público adolescente que não consegue escapar dos clichês de fórmulas anteriormente concebidas em uma trama com protagonistas jovens envoltos por uma questão sobrenatural. É uma obra de ficção científica para adolescentes.

 

Clichês

Harry e June correndo em Os Inocentes

 

Repleta de clichês, Os Inocentes foca em um assunto mais “lugar comum”, considerando as últimas polêmicas envolvendo obras voltadas para adolescentes do Netflix, como Insatiable ou 13 Reasons Why: o amor. Assim, ela imediatamente ganha a empatia do público, pois quem não se lembra de ter 16 anos e estar apaixonado?

No entanto, nem o amor consegue justificar decisões bastante questionáveis de seus protagonistas June e Harry. Abrigar-se no barco de um desconhecido que vende quinquilharias no meio da rua? Claro! Traficar drogas para ele? Por que não? Abrigar-se na casa de outra desconhecida após experiências prévias demonstrarem que isso é uma má ideia? Parece ótimo!

Os erros da série não residem apenas nas escolhas dos adolescentes. O roteiro é bastante inconsistente e parece ser moldado conforme as necessidades da trama. No piloto, somos apresentados a Ryan (Arthur Hughes), irmão de June, que sofre de agorafobia. Não é certo por quanto tempo Ryan vive trancafiado sem vez a luz do dia, mas podemos presumir que provavelmente isso se desenvolveu quando a mãe deles os deixou, o que já faz alguns anos.

Quando Ryan descobre que June desapareceu, vemos seu extremo sofrimento ao deixar o conforto de seu refúgio para partir com seu padastro em busca de June. Mas o jovem sofre apenas em um primeiro momento. Milagrosamente, nas cenas que se sucedem, todas ao ar livre, Ryan parece curado de uma fobia que o fez recluso por anos.

Até mesmo as reviravoltas da série são totalmente previsíveis, de modo que Os Inocentes não é uma obra inovadora. Ela apenas repete a desgastada fórmula do amor impossível mesclado em uma trama sobrenatural.

 

Feminismo e a busca pela identidade

June se olha no espelho em Os Inocentes

 

Mas ultrapassando todos os clichês e inconsistências, é uma série que utiliza a metamorfose de seus personagens para tocar em outro assunto relevante para o público: a busca pela identidade. No caso de June, essa crise existencial é literal, na medida em que ela se transforma fisicamente em outras pessoas e passa a ter acesso aos seus pensamentos e memórias.

Em entrevista ao Globo, os atores comentaram sobre a questão do autoconhecimento e aceitação presentes na série: “A Série se comunica com o mundo real porque fala sobre autoconhecimento no processo de amadurecimento. E isso é uma questão urgente na era das redes sociais e em que tanto se discute saúde mental. Os elementos de ficção científica são só uma desculpa para abordar esses temas“, explicou Sorcha Groundsell.

A série dialoga com o público adolescente porque nos relembra da importância de nos sentirmos confortáveis própria pele. Ainda que não tenha sido a intenção de Os Inocentes tratar especificamente da questão da identidade de gênero, para o ator Percelle Ascott a metamorfose é uma metáfora que se conecta com o universo transgênero.

 

Harry consola June em Os Inocentes

 

Outra questão atual que Os Inocentes aborda (ou tenta) é o feminismo. A metamorfose, vista como um dom, acomete apenas as mulheres, sendo June a metamorfa protagonista da história.

A série também flerta com a sororidade na medida em que as mulheres do santuário inicialmente se veem como competidoras lutando pela atenção de Halvorson, e ao longo do seriado passam a se enxergar com bondade e compaixão.

O pesquisador e dono do Sanctum é um homem (Guy Pearce) que faz experimentos para tentar controlar o dom de suas pacientes mulheres. Só que com isso, ele acaba controlando e manipulando as próprias mulheres. Além disso, June é constantemente colocada no papel da vítima, e acaba sempre sendo salva por seu namorado Harry. Ambas situações não muito feministas.

No final das contas, é uma série que ao menos tenta trazer questionamentos mais profundos do que inicialmente aparenta.

 

Questões para a próxima temporada de Os Inocentes

June chora em Os Inocentes

 

Atenção! Os próximos tópicos contêm spoilers sobre a série.

Os Inocentes não conseguiu repetir a fórmula do sucesso de Dark, mas é uma série que entretém, ficando um pouco melhor a cada episódio. E quando finalmente engata a ponto de prender nossa atenção, ela acaba.

Embora ainda não seja oficial a renovação da série para uma segunda temporada, a atriz Sorcha Groundsell deixou escapar em uma entrevista que ela teria sido contratada para seis temporadas.

Abaixo comentaremos sobre as principais questões deixadas para a possível segunda temporada de Os Inocentes:

 

1 – O que aconteceu com Harry?

Harry está ferido em Os Inocentes

 

No penúltimo episódio da temporada, nos é explicado o que aconteceu com Lewis Polk (Philip Wright), pai de Harry. Elena o conheceu em uma aula de pintura e acabou se envolvendo emocionalmente com ele. Só que, considerando que o gatilho para a metamorfose de Elena é o amor, quando Lewis contou que a amava, Elena não conseguiu controlar sua metamorfose mesmo após anos de “alta”. Ela então se transformou em Lewis e, atordoada, foi para a rua. Ainda abalada pelo sentimento de amor, Elena mesmo já tendo sofrido a metamorfose continuou suscetível a novas transformações.

Quando outros estranhos encostaram nela, Elena acabou sofrendo novas metamorfoses em cadeia, tendo ao longo da madrugada deixado 5 pessoas em transe. Dentre elas, apenas a última senhora encostada recuperou a consciência.

Isso nos leva a crer que quando ocorrem metamorfoses em cadeia, apenas a última pessoa objeto da transformação consegue despertar do transe, depois que o metamorfo volta ao seu estado normal.

No último episódio da primeira temporada, Harry e June sofrem um acidente de carro e June fica gravemente ferida. Percebendo que a jovem iria morrer, Harry concede a ela permissão para se transformar nele, assumindo suas características físicas e, consequentemente, se curando. June então sairia do local do acidente e buscaria socorro para Harry.

Entretanto, Christine, a mãe de Harry, os encontra no carro momentos após a batida. Acreditando ser Harry, ela corre para abraçar June, que implora para não ser tocada. Assustada, a adolescente sabia que com o toque poderia sofrer nova metamorfose, uma vez que seu gatilho é o medo. Christine não escuta e abraça June, que imediatamente toma a forma de Christine. Harry então entra em um estado catatônico, do qual não sairá tão fácil.

É provável que boa parte da segunda temporada seja sobre a busca para a cura do estado de transe em que se encontram Lewis, Harry e os demais afetados pelas metamorfoses de Elena chamados de “os cinco de Pennines”. Para isso, possivelmente Christine terá que unir esforços a John e June, mesmo a contragosto.

 

2 – Há uma cura para Lewis?

Lewis em Os Inocentes

 

Considerando que agora Harry, que é um dos protagonistas de Os Inocentes, também está em transe, é muito provável que em algum momento seja descoberta a cura para o estado que acomete Lewis.

Seria interessante se no seriado a cura dependesse do sacrifício do metamorfo que causou a transformação, já que essa reviravolta colocaria em conflito os interesses dos protagonistas adultos da série. Por essa teoria, para salvar seu filho e marido, Christine teria que sacrificar a filha e a esposa de John.

 

3 – Por que Halvorson queria June?

Halvorson em Os Inocentes

 

No final de Os Inocentes, Halvorson expõe o motivo de sua fixação por June. A jovem não era uma metamorfa qualquer. Além de se transformar fisicamente em outra pessoa, ela tinha o poder de acessar os pensamentos de seu hospedeiro, assumindo por completo sua identidade. Essa característica colocava em perigo a própria existência de June, considerando que ao sofrer alguma metamorfose ela poderia se esquecer quem ela era, passando a viver inteiramente como a pessoa na qual se transformou.

Era exatamente essa habilidade de que Halvorson tanto precisava. Runa (Ingunn Beate Øyen), sua esposa e primeira metamorfa que estudou, sofre de demência. O médico acredita então que pode prolongar a vida de Runa ao ter June se transformando nela e “virando” Runa permanentemente, de modo que June deixaria de existir.

No entanto, se essa realmente fosse a intenção de Halvorson, ele poderia ter transformado para sempre Freya/Kam (Abigail Hardingham), filha de Runa. No decorrer de Os Inocentes, descobrimos que assim como June, Kam também tem o dom de acessar os pensamentos de seu hospedeiro, tornando-se ele por completo.

Por que Halvorson não quis usar Freya? Teria ela fugido antes do médico completar seu plano? Será que existia algum outro motivo oculto para a busca por June que Halvorson não revelou?

 

4 – O que Halvorson quis dizer com “ela é a primeira”?

Halvorson e Runa em Os Inocentes

 

Em determinado momento, Halvorson conversa com Steinar (Jóhannes Haukur Jóhannesson) sobre June, e diz que eles teriam achado “a primeira”. O que isso significa?

É possível que eles estivessem falando sobre a primeira da linhagem dos metamorfos, como se June fosse descendente direta dos berserkers, raça que inicialmente desenvolveu o dom da metamorfose. Assim, ela conseguiria acessar aos pensamentos de seu hospedeiro porque sua linhagem seria a mais pura, remetendo diretamente aos guerreiros nórdicos do passado.

Mas se foi isso que Halvorson quis dizer quando mencionou que June seria “a primeira”, ele estava errado. Na verdade, a primeira metamorfa que cruzou seu caminho e que tinha essa habilidade foi Freya, filha de Runa. Inclusive, Freya é norueguesa, e portanto é possível que seja mais descendente direta dos berserkers que June. Teria o médico cometido um erro, ou seria June “a primeira” em um outro contexto?

 

5 – Steinar está vivo?

Steinar em Os Inocentes

 

No último episódio, descobrimos (em uma previsível reviravolta) que o Steinar que estava no Sanctum e ameaçou matar Halvorson era na verdade Freya/Kam. A adolescente assumiu a identidade de Steinar para expor as atrocidades que fizeram com ela no santuário, e proteger June de ter o mesmo fim.

Teria Freya matado Steinar para se vingar dele?

O destino de Steinar ainda é incerto. O episódio apenas mostrou Steinar adentrando a residência de Kam em Londres, de modo que não ficou claro se ele foi morto por Kam. Também não foi abordado pelo seriado o que ocorre com a metamorfa se seu hospedeiro morre.

Isso ocasionaria a morte também da metamorfa, já que ela assume as características físicas de seu hospedeiro? Ou ela apenas assume a forma como o hospedeiro estava no momento da metamorfose?

Nossa aposta é que Steinar está vivo, já que normalmente as mortes são sempre mostradas nas obras visuais. É provável que na segunda temporada ele inicie uma caça a June e Freya, culpando-as pela morte de seu mentor Halvorson.

 

Os Inocentes pode não ser a melhor série disponível no Netflix, mas é um programa que aborda o amor e a visão (perdoe-nos a redundância) inocente de mundo que só um adolescente pode ter. Se quiser assistir a algo mais leve e menos desgracento, pode ser uma boa opção para os maratonistas de plantão.

 

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Boo Mesquita

Geek de carteirinha e cinéfila, ama assistir a filmes e séries, ir a shows, ler livros e jogar, sejam games no ps4 ou boards. Quando não está escrevendo, pode ser vista fazendo pole dance, comendo fora ou brincando com cachorrinhos. Me siga no Instagram!

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