Han Solo: Uma História Star Wars | E uma crítica sem spoilers!

De ex-contrabandista a General da Nova República, Han Solo consolidou-se como um dos personagens mais emblemáticos da história do cinema. É também a figura com um dos backgrounds mais enigmáticos da trama, característica que até o momento o havia favorecido, como um recurso essencial na formação de sua personalidade e de seu papel na mitologia da saga Star Wars.

Seria Han Solo uma peça delicada e sagrada demais no cânone de Star Wars para ter seu passado contado?

Ao mesmo tempo que a nova trilogia começada em 2015 trouxe aos fãs mais jovens inspirações heroicas e representativas através de Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac), O Despertar da Força (2015) e Os Últimos Jedi (2017) mostraram que também podem fazer um serviço aos fãs mais antigos da saga, ao revisitar e homenagear os grandes heróis de sua infância. No entanto, a decisão ousada da Lucasfilm em produzir um spin-off focado inteiramente no ex-contrabandista mais famoso da galáxia gerou polêmica e ceticismo entre os fãs.

Mas novamente, dentro do universo apaixonado do fandom de Star Wars, o que não geraria?

Somada à arriscada aposta do filme, as notícias polêmicas sobre dificuldades na produção de Han Solo contribuíram para minar as expectativas dos fãs sobre o filme. Apesar das filmagens terem começado em janeiro de 2017, lideradas pela dupla de diretores Phil Lord e Chris Miller (LEGO Batman: O Filme), já em junho do mesmo ano foi anunciada sua demissão por conta de diferenças criativas com os produtores. Para o seu lugar, foi escolhido Ron Howard (Uma Mente Brilhante), experiente ator, roteirista e diretor.

Em paralelo, rumores sobre as dificuldades de atuação do protagonista Alden Ehrenreich, no papel do antológico personagem moldado pelos trejeitos de Harrison Ford, ajudaram a abalar de vez as expectativas dos fanáticos pela saga. De acordo com a Vulture, a Lucasfilm teria contratado um professor de atuação para ajudar Alden a ficar mais relaxado e parecido com a atuação de seu antecessor, Ford.

 

alden ehrenreich e harrison ford como han solo

 

E claro, a notícia de que Han Solo: Uma História Star Wars seria o filme mais caro da franquia não ajudou. Enquanto a produção de Rogue One (2016) e Os Últimos Jedi (2017) foram estimadas em torno de 200 milhões de dólares, e O Despertar da Força (2015) em 245 milhões, o filme de Solo custou por volta de 250 milhões.

As expectativas quebradas e o estigma de fracasso que rodeou a produção do filme foram suficientes para causar forte desânimo aos fãs, e nem a confirmação de atores em alta como Emilia Clarke (Game of Thrones) e Donald Glover (Atlanta) foram capazes de gerar algum hype significativo. E diante da estreia, ainda vemos pouca repercussão sobre Solo.

No entanto, não podemos afirmar que Solo é um filme ruim.

 

Elenco e atuações

elenco de han solo: uma historia star wars

 

Han Solo conta com um elenco bastante diverso e competente, mas que enfrenta grandes desafios.

Os experientes Paul Bettany (Visão de Vingadores) e Woody Harrelson (Abernathy de Jogos Vorazes) fazem ótimos trabalhos nas peles do assustador vilão Dryden Vos e do carismático (porém ardiloso) mercenário Tobias Beckett, respectivamente. Harrelson foi escolhido em detrimento de Christian Bale (Batman: O Cavaleiro das Trevas) para encarnar o personagem que atua como uma espécie de mentor para o jovem Han Solo, passando ensinamentos não só através de suas qualidades, mas também de seus defeitos.

Paralelamente, temos atores não tão experientes, mas queridinhos do público: Emilia Clarke (Daenerys em Game of Thrones), no papel de Qi’ra, e Donald Glover (Earnest ‘Earn’ Marks em Atlanta), no papel do jovem Lando Calrissian. Glover, o multitalentoso ator, roteirista, humorista, e rapper do projeto Childish Gambino, teve uma maior responsabilidade neste ponto. Afinal, Lando é um dos coadjuvantes mais queridos da primeira trilogia da franquia, interpretado na época por Billy Dee Williams. Mesmo assim, o jovem ator consegue corresponder ao desafio.

E ainda tivemos a partipação de Jon Favreau como a voz de Rio Durant, o piloto ardeniano de língua afiada que trabalha para Beckett.

O calcanhar de Aquiles no elenco realmente acaba sendo Alden Ehrenreich, pois apesar de competente, tem a missão suicida de se manter à altura de um Solo construído em cima dos trejeitos de Harrison Ford. Não à toa, o personagem figura na terceira posição na lista dos 100 melhores personagens da história do cinema pela revista Empire.

Apesar de tentar simular a entonação e alguns dos maneirismos do Solo de Ford, Alden não consegue trazer uma presença tão marcante. O que não chega a representar um grande problema, pois os coadjuvantes e a trama em si conseguem segurar a barra. Interessante ressaltar que dentre os testes para o papel de Han Solo tivemos nomes como Chris Pratt (Guardiões da Galáxia), Rami Malek (Mr. Robot), Chandler Riggs (The Walking Dead), Miles Telles (Whiplash) e Dave Franco (O Artista do Desastre), entre outros.

É curioso tentar imaginar como teriam sido estas diferentes versões de Han Solo.

 

Fan service e representatividade na medida certa

han solo uma historia star wars 3

 

Se tem uma coisa que o spin-off acerta, é em dosar bem as referências aos outros filmes da franquia.

O chamado fan service em Solo é praticamente indissociável da narrativa em si, considerando que está diretamente relacionado a explicações sobre o background do personagem, então nada é gratuito. Vemos o nascimento de algumas de suas famosas expressões, como por exemplo o fato de se gabar sobre ter feito o percurso de Kessel em 12 parsecs. A obra também é eficiente em trazer momentos de maior profundidade a Chewbacca, explicando algumas de suas motivações.

Outro acerto é a questão da representatividade, um tema cada vez mais cobrado na cultura pop. Temos um balanço interessante entre personagens masculinos e femininos, além de brancos e negros. Todos tem momentos de protagonismo e certa profundidade em sua narrativa, algo que parece ser uma preocupação nesta nova safra da franquia, desde os novos personagens apresentados em O Despertar da Força (2015).

No entanto, em Solo temos uma questão de representatividade ainda não é muito tratada, mas que em algumas décadas com certeza será um tema importante: a dos direitos dos robôs e inteligência artificial. No filme, temos a androide revolucionária L3-37, cuja voz é de Phoebe Waller-Bridge (A Dama de Ferro). Assim como os outros droids de Star Wars, a personagem atua como um alívio cômico, mas isto não a impede de trazer uma camada mais profunda ao filme.

 

gif lando e l3-37

 

Ainda que R2-D2 e C-3PO sejam capazes de conversar e parecem ter vontades próprias, L3-37 é uma androide realmente senciente. Ou seja é a capaz de ter percepções conscientes sobre quem é e, a partir disso, elaborar uma visão crítica de seu papel no mundo. Por ter essa habilidade, naturalmente questiona o modo como os outros androides são tratados e demanda por igualdade de direitos, o que gera situações hilárias.

Ou seja, mais um integrante para o hall de robozinhos carismáticos de Star Wars.

 

Veredito sobre Han Solo: Uma História Star Wars?

han solo uma historia star wars 2

 

Apesar de não possuir grandes pretensões ou tentar ser transformacional para a saga, como Os Últimos Jedi (2017), o filme é extremamente bem executado, com um roteiro seguro e competente. Uma verdadeira aventura, digna de nos apegar aos personagens e nos deixar na ponta do assento em suas cenas de ação.

O infortúnio de Solo realmente é estar atrelado à saga Star Wars. Fato que Rogue One (2016) talvez tenha conseguido driblar por não se arriscar a mexer com os imortalizados personagens da franquia. No entanto, temos duas novas obras no forno que podem ter a mesma dificuldade. Os já anunciados spin-offs de Obi-Wan Kenobi e Boba Fett.

Por isso, não seria de se espantar que os fãs menos fervorosos da franquia venham a avaliar melhor o filme de Han Solo que os mais fanáticos. Talvez essa seja a exata distinção que separe os que gostam dos que não gostam da obra. Para os simpatizantes, porém menos entusiastas de Star Wars, e os amantes do gênero de aventura em geral, o filme cumpre muito bem o seu papel. Traz um ótimo elenco com boas atuações, fan service na medida certa (sem dificultar o entendimento da narrativa) e representatividade sem forçação.

Outro mérito que podemos apontar na obra é não deixar o romance de Solo (Alden Ehrenreich) e Qi’ra (Emilia Clarke) atrapalhar o roteiro e a construção do personagem, já que a relação entre os dois acaba ficando em segundo plano.

Talvez a verdadeira história de amor do filme seja entre Solo e Chewie.

 

han solo e chewbacca em han solo uma historia star wars

 

 

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Marcos Malagris

Publicitário, professor de marketing digital e Psicólogo, gasta seu escasso tempo livre navegando na Interwebz, consumindo nerdices e contemplando a efemeridade da existência. Me siga no Twitter ou no Facebook!

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