Atypical | Segunda temporada retorna ainda melhor que a primeira

Em setembro, estreou no Netflix a segunda temporada de Atypical. E o retorno da série tem tudo para aumentar a sua já considerável base de fãs.

Criada por Robia Rashid (roteirista e produtora de How I Met Your Mother), Atypical acompanha os desafios de Sam Gardner (Keir Gilchrist), um adolescente de 18 anos que está no espectro do autismo e que demonstra interesse em encontrar uma namorada. A busca por independência de Sam afeta a todos de sua família, especialmente sua mãe Elsa (Jennifer Jason Leigh), acostumada a ter mais controle na vida do adolescente.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) vem ganhando representação em Hollywood, principalmente em personagens como Abed (Danny Pudi) de Community, Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) da premiada Sherlock, e o famoso Sheldon Cooper (Jim Parsons) de The Big Bang Theory.

No entanto, Atypical tem um diferencial. No seriado, o personagem no espectro autista é também o protagonista, e sua condição é o fio condutor da trama. Esta abordagem, também vista em The Good Doctor, ajuda a dar maior visibilidade ao assunto. Se executada da maneira correta, permite também desmistificá-lo, livrando os portadores do transtorno dos esteriótipos que os cercam.

 

Sam em Atypical

 

Outra grande conquista da série é que, assim como no excelente Extraordinário, Atypical foca não somente em Sam, como também explora as questões pessoais de cada integrante de sua família. Sam possui o transtorno do espectro autista, e por isso não é considerado “normal” (neurotípico). Mas ao desenvolver as narrativas dos demais personagens, a série busca relembrar que ninguém é normal. E nem mesmo os neurotípicos conseguem alcançar os padrões de excelência esperados pela sociedade.

Na primeira temporada, a série ganhou algumas críticas negativas pela maneira como apresentou o transtorno de Sam. No primeiro episódio, o adolescente tenta perder sua virgindade mas tem um surto, e acaba empurrando a garota e fugindo. Em outro momento, ele invade a casa de sua psicóloga ao se descobrir apaixonado por ela. Por fim, humilha sua namorada ao falar na frente de toda a sua família que não a ama.

Para algumas pessoas que estão no espectro autista, Atypical confundiu o transtorno autista com crueldade e violência, e fez um desserviço ao tentar justificar as atitudes ruins de Sam como resultados de seu transtorno. Para outras, a série fez um retrato certeiro de portadores da síndrome de Asperger, com uma interpretação poderosa de Gilchrist como Sam.

 

Sam com fones de ouvido em Atypical

 

Essa divergência de opiniões ocorre porque não há uma definição precisa do que é ser autista. Em maio de 2013, a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) trouxe uma alteração relevante para o estudo do autismo. Desde então, tanto o autismo como a síndrome de Asperger foram incorporados ao termo Transtorno do Espectro do Autismo. Assim, o portador pode possuir o transtorno em maior ou menor grau.

Dessa forma, algumas pessoas identificarão em Sam um retrato majoritariamente fiel de um adolescente no espectro do autismo porque ele as lembra de suas próprias experiências pessoais. Enquanto isso, por Sam não representar todos os diferentes graus do espectro, outros indivíduos podem possuir a percepção de que a série não é fidedigna ao retratar os portadores do transtorno.

A habilidade sociável e funcionalidade de Sam indicam que provavelmente ele tenha o transtorno em menor grau. Assim como Sheldon Cooper, Sherlock e Abed, Sam é bem sucedido no colégio, e interage bem com seus colegas, principalmente com Paige (Jenna Boyd) e Zahid (Nik Dodani). Este último personagem reforça a ingenuidade de Sam, já que Zahid é visto por sua mãe como um fracasso por fumar maconha nas suas horas livres e por não ter começado a faculdade. Mesmo assim, Sam o admira e o considera a pessoa mais sábia que ele conhece, tendo-o como seu mentor.

 

Zahid aconselha Sam em Atypical

 

Apesar de já ser relevante a abordagem da série com relação ao transtorno de Sam, Atypical também foi criticada por não ter dado visibilidade a outros indivíduos dentro do espectro autista, e por não ter trazido nenhum ator que seja portador do transtorno. Felizmente, esse erro foi sanado na segunda temporada.

Na nova temporada, Sam decide frequentar o grupo de apoio para jovens dentro do espectro autista de seu colégio. Lá, somos apresentados ao núcleo de atores que, assim como seus personagens, também possuem o transtorno.

 

 

Essa não foi a única mudança positiva da série. Se na primeira temporada a série ganhou contornos tristes pelas crises de Sam, infidelidade de Elsa e frustração de Doug (Michael Rapaport) ao ver o distanciamento de sua mulher, na segunda temporada a palavra da vez é esperança.

Elsa tenta reerguer seu casamento após a descoberta de seu caso. Doug está confuso e magoado pela traição, ao mesmo tempo em que continua tentando se aproximar de Sam. O adolescente vive o drama do final do ensino médio enquanto decide se gostaria de ir para a faculdade. E Casey (Brigette Lundy-Paine) merecidamente ganha mais protagonismo e amplia seu arco na trama. A jovem ganha uma bolsa para estudar em um colégio particular e vive os desafios de se enturmar com pessoas de diferentes classes sociais.

 

Casey andando em Atypical

 

Casey antes era uma importante peça na vida de Sam. Junto com Zahid, era quem mais tratava Sam como um garoto normal, sem reforçar suas limitações. Ela o defendia no colégio de eventuais bullyings, mas em casa implicava com ele, como qualquer outro adolescente agiria com seu irmão. Enquanto sua mãe se preocupava com o interesse de Sam em se relacionar com alguém, ela o apoiava e criava para o irmão uma página em um site de relacionamentos.

Agora, ao sair do colégio em que sempre estudou, Casey se afasta um pouco do cotidiano com Sam e ganha um arco próprio, com questões próprias. E por meio de Casey, na segunda temporada Atypical explora de forma leve outros assuntos relevantes aos adolescentes.

Atypical é uma série leve, engraçada, que mistura humor com questões sérias como transtorno do espectro autista, representatividade e aceitação. E assim como Anne with an E, é o tipo de obra que ao final nos deixa com um sorriso no rosto.

Esperamos continuar com motivos para sorrir por muitas outras temporadas.

 

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Boo Mesquita

Geek de carteirinha e cinéfila, ama assistir a filmes e séries, ir a shows, ler livros e jogar, sejam games no ps4 ou boards. Quando não está escrevendo, pode ser vista fazendo pole dance, comendo fora ou brincando com cachorrinhos. Me siga no Instagram!

One thought on “Atypical | Segunda temporada retorna ainda melhor que a primeira

  • 24 Setembro, 2018 at 17:47
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    Boo, ótima dica quando me falou sobre a série. Vale muito assistir👌bj

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